Domingo de Ramos – Examinemo-nos a nós mesmos

O silêncio das ruas por conta do isolamento social ou quarentena da epidemia nos ajudou neste ano a uma atitude nova para com a Quaresma, levando-nos à profundas reflexões.

Alguns, muito preocupados com a saúde, encheram a sacola de remédios. Outros, preocupados com a economia, colocaram em ordem suas finanças, com planejamentos. Sem querer desmerecer estes dois primeiros gestos, é preciso afirmar que o gesto mais importante neste tempo é colocarmos em ordem nossa vida espiritual.

 

Temos de preservar a nossa vida ao máximo, é justo, mas até mesmo a vida mais bem cuidada terá seu fim nesta terra. Por isso, temos de estar preparados para a eternidade, da qual estamos a cada dia mais próximos, a um passo.

Nesta Quaresma vemos a propagação da epidemia em tantos países. Ela não deixa para nós outra preocupação, senão a eternidade: Quem se preocupa com ela?

 

Cristo, na Cruz, morre por amor a nós, para redimir nossos pecados e usar de misericórdia e justiça, para nos abrir a porta do céu. Não vamos ficar indiferentes, como se fosse apenas mais um dia ou cerimônia, que não mudará nada em nossa vida. A quaresma deste ano é um convite muito forte para uma mudança de vida. Ninguém tem certeza de nada neste momento, e as discussões de ordem política, econômica, médica e sociológica, se não despertarem em nós uma preocupação maior em nós com as coisas de Deus, serão inúteis.

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Seja lá quem tenha razão nestas discussões, muitos morreram hoje, morrerão amanhã ou daqui a dois dias. Se usarmos a razão, pensaremos: todos morreremos um dia. De que vale, então, ao homem ganhar o mundo inteiro se vir a perder a sua alma?

 

Temos, então, uma ocasião extraordinária para a mudança de vida.

 

Muita coisa no século XX mudou depois da aparição de Nossa Senhora de Fátima e da gravíssima gripe espanhola, juntamente com a Primeira Guerra Mundial. Estes acontecimentos mudaram o curso do século. Quem deu ouvidos ao que Nossa Senhora falou passou a rezar com mais devoção, a rezar mais pelo Papa, a combater as doutrinas que negam a verdade de Deus e da Igreja. Quem deu atenção apenas à terra, ao poder, e usaram da experiência da primeira guerra mundial sem perspectiva de eternidade, logo se viu metido em uma segunda guerra mundial, que culminou com uma bomba atômica, matando milhares de pessoas em um único instante.

 

E aqueles que só se preocuparam com a gripe espanhola? Muitos não sobreviveram. 50 milhões morreram. Muitos, desacreditando em Deus e na autoridade dos governos, se entregaram a um certo ateísmo prático, que se tornou quase um lema do século XX: gozar a vida e buscar todos os prazeres possíveis. E foi assim que terminamos o século XX, com poucos devotos de Nossa Senhora, com pequeno número de fiéis guardando e pondo em prática a doutrina. Há tantos católicos, batizados, que na prática se tornaram ateus. Outros se voltaram contra Deus, contra a doutrina de Jesus Cristo, se colocando a serviço do mal.

 

Sem querer julgar ninguém, cada um examine a si mesmo, se o sangue de Cristo está correndo em vão ou se valeu a pena. Você tem se esforçado em viver em união com Aquele que tanto te ama?

 

Que Nossa Senhora nos ajude a sair desta Quaresma e quarentena da epidemia, obreiros, isto é, prontos para colocar tudo isto em prática em nosso dia a dia.

 

Padre José Henrique do Carmo

Transcrição da Homilia do Domingo de Ramos, 05/04/2020.