Geração emudecida

Certamente você já ouviu aquele antigo conto da Roupa nova do imperador: “Um rei vaidoso, certa vez procurou uns homens que se diziam tecelões maravilhosos e que fariam uma roupa encantada, a mais bonita do mundo, mas com uma característica singular: apenas os olhos daqueles que fossem inteligentes a enxergariam!  O rei achou muito interessante e encomendou a roupa. Os tecelões trabalharam num tear mágico, com uma linha invisível, em um pano que ninguém via. Quando ficou pronta a nova roupa do rei, o rei seguiu num cortejo pelas ruas. As pessoas temiam perder seus empregos e seus prestígios por falar o óbvio, por isso todos o aplaudiram, até o momento que apareceu uma criança, que não tinha os mesmos escrúpulos de um adulto e podia dizer realmente o que percebia: o rei estava nu!”

Vemos neste conto que é evidente não conseguirmos expressar o óbvio e também o verdadeiro. Muitas vezes olhamos para o rei e vemos que ele está nu, mas não falamos nada porque temos em mente muitas outras coisas que dizem ao contrário: “Ele está vestido com uma roupa que só os inteligentes podem ver”, “Se eu disser que o rei está nu, passarei por burro ou preconceituoso”, “Vou dizer o que todos estão dizendo que o rei está vestido magnificamente, assim não perderei prestígios e serei considerado inteligente”.

Sabe, este conto me diz muito do momento atual que estamos vivendo. Estamos inseridos numa sociedade onde não podemos falar do óbvio, onde não podemos dizer o que é verdadeiro e falso, realidade e ficção. Não podemos falar do que é verdadeiro, justo, nobre (Fl 4,8), temos que falar a linguagem que todos estão falando para sermos aceitos.

Gerar uma vida é sinônimo de prisão, e às vezes até de loucura se o casal tem mais filhos. “Normal” é ter um filho e um cachorro. Assassinato de crianças no ventre seja por aborto, seja por métodos contraceptivos, é tudo normal, natural. Até muitos casais estão sendo confundidos e querem usar métodos para “espaçar” uma nova gravidez julgando ter “motivos”. Tome cuidado com os vossos motivos, julguem vossas intenções, analisem vossa consciência, podemos usar o que é bom de forma ruim, filho não é propriedade que você adquire quando pode e quando quer, filho é dom de Deus.

Crianças, jovens, adolescentes inseridos nos eletrônicos, telas, jogos, celular. Crianças não estão mais brincando no quintal de amarelinha, porque a moda é Tiktok. As crianças estão sendo silenciadas, emudecidas, e os pais, os adultos, estão gostando, porque é muito bom trabalhar, viver no silêncio e na tranqüilidade. O barulho da criança incomoda… Que triste!

 

Gerações líquidas, sem constância e profundidade, querem tudo de graça, da forma mais fácil e descomplicada. Suar a camisa, trabalhar, arregaçar as mangas, exige renúncias, e muitos não querem renunciar. Acordar cedo e trabalhar, dormir menos para rezar mais, acordar nas madrugadas para socorrer um bebê, tudo exige esforço da vontade e renúncia do prazer, é um caminho, mas muitos que não querem trilhá-lo. É mais fácil contemplar a nudez do rei, e viver como todos vivem e seguir o fluxo.

Difícil é ser diferente. Entenda bem, ser diferente não é se vestir diferente, conforme a “moda católica”, a diferença está nos propósitos, nas atitudes, no comportamento, numa vida inserida no mundo, mas nutrida de virtudes capaz de transcender.

Estamos inseridos em uma geração em que se expressar torna-se perseguição; é claro se você for contra a maioria, porque se você olhar para onde a maioria olha, você apenas tende a crescer e ser como eles. O que devemos fazer? Olhar e fingir que o rei está vestido magnificamente?
A palavra de Deus diz em Zacarias 8, 16: “Eis o que deveis fazer: falai a verdade uns aos outros; julgai às portas de vossas cidades segundo a justiça e a sinceridade”.

Você pode até estar sentido raiva de estar lendo este texto, mas isso é bom, porque melhor ser confrontado nesta vida, do que fingir e ser confrontado na outra, onde não teremos tempo de justificativas (Ecle 12,14).

Pare de dizer que o rei está magnífico, não perca sua alma por respeito humano (Eclo 20,24), reaja! Fale a verdade! Defenda a verdade com sinceridade às portas da cidade.

 

LEIA TAMBÉM:

 

Tem muita gente falando o que quer, pregando o que lhe vem à cabeça, sem se pautar na Santa Igreja, cristãos vivendo isolados no seu mundo, sem fazer a parte que lhes cabe. De anunciadores do evangelho se tornaram expectadores (Rm 10,14). Vidas ceifadas, casamentos destruídos, famílias desconfiguradas, reflexo de uma geração líquida, vazia!

O evangelho não é deselegante, mas é sincero, verdadeiro, justo. Ou vivemos o evangelho, ou cada um crie suas próprias regras (Lv 19, 11), e no fim veremos quem fará a passagem para outra margem.

Se você não está em condição de dizer a verdade, mas de viver nesta verdade, Provérbios 28,13 diz: “Quem dissimula suas faltas não há de prosperar; quem as confessa e a detesta obtém misericórdia”, chegou o tempo para você voltar à verdade, que salva e liberta (Jo 8,32). Resta tempo!

Independente se você esta na posição de defender a verdade ou se converter à verdade. Este é o momento que Deus te reserva para fazer o retorno… Imagine você em uma avenida onde está no último retorno, você tem duas opções, seguir adiante sem olhar o que deixou para trás, ou retornar ao caminho anterior e fazer diferente, a decisão é sua!

Simone Magalhães da Silva Dortti, MISSIONÁRIA CONSAGRADA NA COMUNIDADE FANUEL – ROSTO DE DEUS