A importância da Liturgia na vida da Igreja

“Eu recebi do Senhor o que vos transmiti: que o Senhor Jesus, na noite em que foi traído, tomou o pão e, depois de ter dado graças, partiu-o e disse: Isto é o meu corpo, que é entregue por vós; fazei isto em memória de mim. Do mesmo modo, depois de haver ceado, tomou também o cálice, dizendo: Este cálice é a Nova Aliança no meu sangue; todas as vezes que o beberdes, fazei-o em memória de mim. Assim, todas as vezes que comeis desse pão e bebeis desse cálice lembrais a morte do Senhor, até que venha.” (I Cor 11,23-26)

 

Fatos históricos
A liturgia católica é uma reunião de cerimônias e ritos relativos aos ofícios divinos na Igreja Católica. Esta palavra liturgia é uma derivação da palavra grega leitourgos, que servia para descrever a função de alguém que exercia um serviço público ou liderava o cerimonial.

A partir do século XIII, esta palavra passa a designar as celebrações em torno da Eucaristia na Igreja Grega e, somente no século XVI, ela passou a fazer parte do vocabulário de celebrações na Igreja Católica Romana.

Então a liturgia é um serviço prestado à Deus e tem sua manifestação central no mistério da morte e ressurreição de Jesus Cristo e a sua entrega à Deus como culto agradável.

Nos primórdios da Igreja, a liturgia era de responsabilidade dos apóstolos, “Eu recebi do Senhor o que também vos transmiti” (conf. 1 Cor 11, 23), mas é de conhecimento que algumas igrejas mais afastadas desenvolveram sua própria forma litúrgica para celebrar os Santos Mistérios, como a igreja de Alexandria no Egito (rito Alexandrino) e a igreja de Antioquia na Síria (rito Atioqueno). Curioso é que até meados do século XVI não havia uma regra geral para a liturgia. Foi o Papa São Pio V e posteriormente o Papa Clemente VIII que desenvolveram uma regra litúrgica geral que foi implementada para toda a Igreja Romana, utilizando de uma linguagem oficial para o culto, o latim.

Já no século XX, o Concílio Vaticano II trouxe um frescor à liturgia, dando ênfase à liturgia da Palavra e trazendo a língua vernácula (local) como língua celebrativa.

 

A beleza e simbologia
A Liturgia Católica é marcada pelo zelo, beleza, simbologia e transcendência de cada rito ou cerimonial que à compõe: “Desde Sião, perfeita em beleza, Deus resplandece” (Sal 50,2).

Ao longo dos séculos, os cristãos ofereceram a Deus o melhor que podiam fazer na liturgia, sobretudo pela beleza alcançável pelas mais finas artes, a fim de que as almas dos fiéis pudessem dispor-se melhor para adorar e glorificar o Senhor. É nesse sentido que Santo Tomás de Aquino escreve que a liturgia não é para Deus, mas para nós.

É claro que ela tem a Deus por fim; a liturgia sequer teria sentido se Deus não existisse e Cristo não fosse o Redentor por cujo sacrifício fomos salvos.

 

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Mas a liturgia nada acrescenta a Deus e a Cristo, como se os fizesse “melhores”; eles já são infinitamente bons, santos e gloriosos. A Liturgia é um auxílio para nós, que oferecemos a Deus um sacrifício de louvor, na medida em que ela orienta nossas almas a Ele, nosso fim último, e alimenta nosso espírito com a verdade de sua presença e nossos corações com o fogo do seu amor.

O homem, enquanto criatura intelectual e corpórea, tirará muito menos proveito de uma liturgia quer excessivamente “verbal e cerebral” quer superficialmente “pomposa” do que de uma liturgia que, além de rica em textos e cerimônias, esteja embebida de simbolismo, e isto é uma marco sempre presente nas liturgias históricas (e diga-se de passagem, infelizmente perdida por boa parte das liturgias católicas atuais).

É por todos esses motivos que a liturgia não só pode como deve ser julgada pela aparência, pois, como diz Aristóteles, “a aparência da coisa aponta para a natureza e substância dela”. A Igreja Católica deve cuidar não só do real, mas também das aparências. O ser humano chega ao conhecimento da verdade por meio dos sentidos; ele não pode formar conceitos sem imagens. Em matéria de religião, no encontro com o Deus encarnado nos mistérios de sua vida, morte e ressurreição, nossos sentidos, nossa memória, nossa imaginação e emoções desempenham um papel tão importante quanto nossa inteligência e vontade.

 

Fontes:
Padre João Batista Reus – Curso de Liturgia
Padre Paulo Ricado – Em que, afinal, devemos acreditar?

 

SÉRGIO LUIZ MATIAS, MISSIONÁRIO CONSAGRADO NA COMUNIDADE FANUEL – ROSTO DE DEUS