A LIBERDADE HUMANA E O DRAMA DO PECADO ORIGINAL
Texto base: Eclo 15,14 – Citações bíblicas conforme Bíblia de Jerusalém e Ave-Maria
O homem foi criado à imagem de Deus (cf. Gn 1,27). Isto significa que temos, além do corpo, uma alma espiritual dotada de 3 poderes: inteligência, vontade e liberdade (CAT, 1701s). Delas a que mais nos faz parecidos com Ele é a liberdade, “sinal privilegiado da imagem divina no homem” (Gaudium et spes, 17).
Mas, afinal, o que é a liberdade? Ora, a doutrina católica é precisa ao ensinar que “a liberdade é o poder, baseado na razão e na vontade, de agir ou não agir, de fazer isto ou aquilo, portanto de praticar atos deliberados” (CAT, 1731).
Quando alguém compra um produto, eletrônico, por exemplo, dentro da caixa a empresa envia também um manual de instruções, em vista do melhor uso do produto. Pense que o produto é você, obra-prima do Senhor (cf. Sl 8,5-10), que por sua vez é o Divino Fabricante. Dentro de você, isto é, naquilo que chamamos consciência, Ele deixou o manual de instruções, chamado lei natural. Por causa desta lei natural e interior o homem tinha plenas condições de andar retamente na vontade de Deus.
Porém, embora fossemos verdadeiramente livres e tivéssemos acesso ao manual de instruções em nossa consciência, tal liberdade não era sem limites. Por sermos criaturas nossa liberdade é finita e falível, ou seja, capaz de escolhas erradas (CAT, 1739). No Paraíso o homem gozava de liberdade e domínio sobre as criaturas (cf. Gn 1,26.28-30; 2,15). Poderia dominar o mundo, desde que primeiro dominasse a si próprio (CAT, 377). E Deus, que por um lado confiou-nos um jardim, por outro advertiu-nos: “Mas não comas do fruto da árvore da ciência do bem e do mal; porque no dia em que dele comeres, morrerás…” (Gn 2,17).
Perceba que um limite foi imposto pelo Criador, não para aprisionar-nos, mas para preservar-nos da queda e da morte. É como a grade de ferro ou a parede de vidro da varanda de um apartamento do décimo andar; não serve para tirar a liberdade, mas para preservar a liberdade conservando-nos a vida.
Só que o maligno entrou em cena, questionou a ordem do Senhor e a liberdade humana, tentando o homem a usar a sua inteligência e vontade contra o Criador. Ele disse: “Oh, não! Vós não morrereis! Mas Deus bem sabe que, no dia em que dele comeres, vossos olhos se abrirão, e SEREIS COMO DEUSES…” (Gn 3,3-4). De fato, o inimigo investiu contra o homem, mas entenda: o poder do maligno não é infinito; ele não passa de uma criatura, poderosa sim, mas limitada (CAT, 395). Ele, portanto, não roubou violentamente a liberdade do homem, não lhe invadiu o interior e o fez revoltar-se contra o Criador. Apenas apresentou seus argumentos ao homem, que livremente pensou e decidiu-se contra a ordem estabelecida; daí o homem trocou Deus por si mesmo, a dependência pela autossuficiência. “O homem, tentado pelo Diabo, deixou morrer em seu coração a confiança em seu Criador e, ABUSANDO DA SUA LIBERDADE, desobedeceu ao mandamento de Deus. Foi nisto que consistiu o primeiro pecado do homem” (CAT, 397).
O pecado é, portanto, o desejo do homem em “ser como Deus” (cf. Gn 3,5), mas SEM Deus (CAT, 398) enquanto o propósito original do Senhor era que participássemos sim de Sua natureza divina (cf. 2 Pd 1,14), só que de um modo distinto, que veremos no próximo estudo!