“Ide, portanto, e fazei que todas as nações se tornem discípulos…” (Mt 28,19).
O versículo acima, junto com Mc 16,15 e At 1,8 são conhecidos como o “mandato missionário de Jesus” ou a “grande comissão”. Tratam da tarefa básica da Igreja que é fazer discípulos, processo que envolve vários aspectos conexos entre si: anunciar, ensinar (que é uma obra de misericórdia espiritual), batizar etc.
Mas na premissa deste mandato está a vocação de cada batizado ao discipulado. Sim, o ser discípulo vem antes do fazer discípulos. Primeiro recebemos, depois retransmitimos; primeiro ouvimos, depois falamos. Na metodologia de discipulado de Jesus ensina aos outros apenas aquele que aprendeu Dele.
Na Galileia do tempo de Jesus os meninos em Israel iniciavam seus estudos da Torah (a Lei) aos 6 anos de idade. Aos 10, ao completarem a escola primária, já tinham-na decorada (veja o exemplo de Jesus aos doze anos no templo!). Os alunos mais aplicados seguiam para a escola secundária, mergulhando no restante das Escrituras e na tradição oral dos rabinos e suas interpretações e aplicações da Torah. A partir dos 14 anos os melhores prosseguiam estudando com algum rabino famoso e respeitado (como Paulo, que foi discipulado por Gamaliel!), privilégio de pouquíssimos, limitado a uma elite intelectual. E estes meninos especiais eram chamados de talmidim (= discípulos).
Com os mestres os talmidim aprendiam estilo de vida mais do que conteúdos doutrinários. O mestre era mais importante para um talmidim do que o próprio pai. E um ditado dos antigos rabis aos talmidim tem muito a nos dizer sobre nosso chamado a ser discípulos. Quando o adolescente ingressava nessa relação pessoal com o rabi, lhe era dito: “Cubra-se com a poeira dos pés do seu rabi”.
O sentido disso era que o discípulo deveria estar tão perto do mestre que ao final do dia estivesse sujo, marcado pela poeira. Em outras palavras, eles deveriam observar tudo, ouvir tudo, não perder nenhum detalhe da vida do mestre, pois sua vida era o modelo de pessoa que o discípulo se tornaria.
Provalvelmente foi com esta referência de discipulado que Jesus chamou os que Ele quis para “ficarem em Sua companhia” (Mc 3,13). Só que no caso de Jesus foi o Mestre quem escolheu os discípulos, e não o fez a partir dos melhores, e sim dos mais fracos, como somos cada um de nós.