12 – EBS 2017 – Junho 2

Segundo Tema: O que são células (parte 2). Redescobrindo a presença de Cristo
Texto base: Cl 1,27-29 – Citações bíblicas conforme Bíblia da Ave-Maria

No estudo anterior refletimos sobre o Mistério que envolve a Igreja de Cristo. Agora vamos nos deter na expressão deste Mistério na pequena comunidade, que denominamos célula.

Parece evidente a ênfase do NT na articulação dos cristãos em pequenos grupos fraternos. Jesus viveu assim (cf. Mc 3,13-14), aliás, escolheu viver assim (cf. Lc 6,13-14) (CAT, 764), não porque o pequeno grupo seja um fim em si mesmo, como se portasse vida própria, não, mas porque favorece a perseverança e o crescimento na fé (discipulado), além de estimular e treinar para o compartilhamento desta fé (missão).

Os primeiros cristãos viviam em pequenas comunidades domésticas (cf. At 2,46-47; 12,12; Rm 16,5 etc.) e nelas infiéis e pessoas simples encontravam-se com o Deus vivo e reconheciam Sua maravilhosa presença (cf. 1 Cor 14,23-25).

O mesmo subtítulo do Catecismo que afirma ser a comunidade apostólica a matriz de toda a Igreja, e denomina a Igreja como o Reino de Cristo já misteriosamente presente, diz: “Este Reino manifesta-se aos homens na palavra, nas obras e na presença de Cristo” (CAT, 764).

a)A palavra de Cristo corresponde ao Seu propósito. A célula é lugar favorável para a pregação e o ensino da Palavra de Deus. É lugar de fazer discípulos (cf. At 5,42 e Mt 28,19);

b)As obras de Cristo correspondem ao Seu poder. A célula é lugar de exercitar a fé, cumprindo palavras de Cristo como as de Mc 16,17-18 e Jo 14,12 (leia!);

c)A presença de Cristo é o que faz toda a diferença e torna o mero “grupinho de pessoas” em expressão do Mistério da Igreja. Os “dois ou três” de Mt 18,20 referem-se à vida em comunidade dos batizados e sua expressão de oração.

A Constituição sobre a Sagrada Liturgia, do Concílio Vaticano II, ensina que Cristo está presente em Sua Igreja, sobretudo nas ações litúrgicas (no Sacrifício da Missa, tanto na pessoa do sacerdote, quando nas espécies eucarísticas – por meio dos Sacramentos – e em Sua Palavra) e “presente finalmente quando a Igreja ora e salmodia, Ele que prometeu: “Onde dois ou três estiverem reunidos em meu nome, aí estarei no meio deles” (Mt 18,20)” (Sacrosanctum Concilium, 7).

O modo de presença de Cristo na Santíssima Eucaristia é único e incomparável, pois trata-se da presença verdadeira, real e substancial do Seu Corpo e Sangue, Alma e Divindade, ou seja, ali está o Cristo todo, com Sua divindade e humanidade, graças ao milagre da transubstanciação (ver CAT, 1374-1377). Esclarece, porém, o Catecismo que a presença REAL de Cristo na Eucaristia não se chama assim por exclusão das outras formas de presença (CAT, 1374).

O Deus conosco garante Sua divina presença à Igreja como um todo (cf. Mt 1,23; 18,20; 28,20b), na sua dimensão universal, na sua dimensão diocesana e nas dimensões ordinárias (paroquiais) ou extraordinárias (como nos novos movimentos eclesiais e novas comunidades).

Em outro momento, quando se refere da família como igreja doméstica, o Catecismo traz ao nosso conhecimento uma linda verdade, que relaciona-se diretamente à esta vida em pequenas comunidades que temos redescoberto. Diz: “Cristo quis nascer e crescer no seio da Sagrada Família de José e de Maria. A Igreja outra coisa não é senão a «família de Deus». Desde as suas origens, o núcleo aglutinante da Igreja era, muitas vezes, constituído por aqueles que, «com toda a sua casa», se tinham tornado crentes» (At 18,8). Quando se convertiam, desejavam que também «toda a sua casa» fosse salva (At 16,31 e 11,14). Estas famílias, que passaram a ser crentes, eram pequenas ilhas de vida cristã no meio dum mundo descrente” (n. 1655).
A pequena comunidade cristã é este núcleo da Igreja, esta pequena expressão do Mistério de Cristo, que volta a ser nos nossos dias “pequenas ilhas de vida cristã em um mundo descrente”.
O conceito de ilha aplica-se em relação ao mundo. A célula é um reduto de vida cristã na sociedade, que infelizmente vai descristianizando-se aos poucos. Ela é um oásis em meio ao deserto da mundanização que vai acelerada. Mas, cuidado, a pequena comunidade não pode ser uma ilha em relação à Igreja. Não, ela não pode “ilhar-se”, isolar-se, desvincular-se da Igreja; se o fizer, automaticamente deixa de ser expressão de Cristo. Sua profecia de vida comunitária e sua eficácia evangelizadora dependem da sua comunhão com a Igreja. A célula é para o corpo e não contra ele, do contrário produziria a morte, o câncer.
A pequena comunidade não é autônoma, mas expressão de uma comunidade maior. No caso da Comunidade Fanuel, cada célula expressa – na miniatura – o que a Comunidade é no todo. Assim como a Comunidade depende da Diocese onde se encontra, e consequentemente da Igreja universal, cada célula depende da Comunidade, para estar, de fato, liga à Igreja.
Na biologia a célula porta o DNA da pessoa. No DNA estão todas as informações necessárias para construir e manter o organismo. Quando nos reproduzimos, uma parte de nosso DNA é passada para nossos descendentes. Na comunidade em células se dá o mesmo. Todos os pequenos grupos são expressões do dom que a Comunidade é, e devem alimentar-se deste dom e dar de comer a partir deste dom. A célula, portanto, não pertence ao líder nem ao núcleo, ela é a única e mesma Comunidade, ou seja, possui a mesma e única vida, a mesma e única liderança etc., só que em um pequeno formato.
Se desligar-se do corpo comuitário, a célula morre. Pode até manter-se aparentemente viva por um tempo, como uma rosa consegue “viver” depois de ser tirada da terra, e se for favorecida com iluminação, água etc. Mas ainda que aparente beleza e vida, sabemos que já está destinada a secar e sumir.

Que nossas células não sejam rosas com vida aparente (Leia: Ap 3,1). Deus nos livre disso! Ao contrário, sejamos expressão da vida da Comunidade… Que tenhamos a alegria de estar juntos, o compromisso de servir ao Senhor nos ministérios, que saibamos desfrutar da graça que é ter o Santo Sacrifício da Missa em nossos centros de evengelização, que descobramos o privilégio que é doar a nossa vida a uma missão, mas também o nosso tempo, bens materiais, dons naturais e espirituais… Assim, e somente assim, seremos, de fato, ilhas de vida cristã neste mundo descrente e levaremos as pessoas ao encontro com Cristo, treinaremos discípulos, evangelizadores, novos líderes e alcançaremos famílias inteiras com o Evangelho.

12 – EBS 2017 – Junho 2