Corrigir os que erram (parte 2)
“As pessoas aprendem umas com as outras, assim como o ferro afia o próprio ferro” (Pv 27,17).
No estudo anterior vimos em termos gerais a correção dos que erram e o grave problema da sociedade relativista, que ignora este princípio de formação de caráter e como isto tem reflexos na família e na Igreja. Porém, para uma boa continuidade nesta obra, é importante rever de onde partimos e aonde queremos ir.
Estamos no Ano Santo da Misericórdia, tentando praticar a cada mês justamente aquilo que o Santo Padre pediu: conhecer, aprofundar e praticar as obras de misericórdia, que em primeiro lugar comunicam graças a nós mesmos, porquanto Jesus disse: “Daí, e ser-vos-á dado”. Em segundo lugar, apagam as penas temporais de nossos pecados, pois toda boa obra é instrumento divino para reparar as sequelas de nossos erros. Sobre isso também está escrito: “Os misericordiosos alcançarão misericórdia”. E por último, estas obras nos vão tornando mais parecidos com Jesus, nosso modelo, que nos ensina e auxilia com Sua graça a irmos trocando os bens terrenos e passageiros pelos bens espirituais e eternos.
E neste sentido, dentro de tal busca de identificação com o Senhor Jesus, é importante para a prática desta boa obra que não pensemos que o modelo de perfeição a ser tomado como critério para corrigir os outros sejamos nós mesmos. Não, o único modelo é o Senhor, e se Ele nos pede para exercer a caridade fraterna por meio da correção não é porque sejamos bons e os outros ruins; a verdade é outra. Nós somos incapazes de inspirar mudanças nos outros, somos incapazes de comunicar a vida divina que converte os corações; o único que pode fazer algo é o Senhor, e isto Ele faz de um modo misterioso através de Sua Igreja, da qual somos membros vivos, nos quais Ele vive e por meio dos quais opera… apesar de nós.
O que somos nós, então, na obra da evangelização e da santificação do mundo e da Igreja?
Ora, somos mendigos apontando para outros mendigos o caminho único onde encontrar o Pão que pode garantir a nossa vida. Não somos santos corrigindo pecadores. Somos pecadores (sendo usados pela graça) corrigindo pecadores, somos ferro afiando ferro. Na vida cristã um dia você corrige, outro é corrigido, um dia você dá, outro, recebe. A correção fraterna é uma dinâmica que só pode ser praticada na vida de comunidade e entre aqueles que se consideram imperfeitos. Humildade, portanto, é a palavra-chave. Quem corrige deve fazer com humildade, certo de que não é melhor do que o outro (pois tem falhas talvez mais graves do que as que corrigiu no outro); mas também quem é corrigido precisa de humildade e paciência para aceitar ser ‘afiado’, ‘polido’, ‘lapidado’, pois toda correção visa o seu bem eterno.
A Bíblia é clara quando afirma que Deus corrige e castiga aqueles que Ele ama. Também é clara quando ensina que pais que amam educam (com vara) seus filhos. Correção é expressão de amor, pois só quem ama se entristece ao ver o amado errar. E amor não é questão de sentimentos vagos ou de uma “afetividade melada”; o amor é uma decisão, uma ação que sempre visa o bem último da pessoa. Dizer não, negar algo, impor uma disciplina e punir atitudes erradas são expressões de amor. O pai que corrige o filho não precisa ser perfeito; se a perfeição fosse o critério nenhum pai teria “moral” para corrigir. O critério é o amor sincero, que almeja o bem do outro, seu crescimento e salvação eterna.
CLIQUE AQUI E BAIXE O ARQUIVO PDF – 19 – EBS 2016 – 10 a 16 de julho