Uma reflexão sobre os 50 anos do Vaticano II e do reconhecimento canônico de nossos estatutos.
O VATICANO II E AS NOVAS COMUNIDADES
Neste ano celebramos o jubileu de ouro do Concílio Vaticano II, intuído por São João XXIII como um “novo Pentecostes”. Foi a partir deste evento que se contemplou em toda a Igreja o reflorescimento e a redescoberta de sua dimensão carismática, com o consequente surgimento de novos movimentos eclesiais e novas comunidades, fato que mais tarde São João Paulo II chamaria de “primavera do Espírito” (NML, 46).
Do novo Pentecostes veio a experiência da efusão do Espírito Santo e, com ela, vidas transformadas, adesão ao senhorio de Cristo, retorno à oração, amor às Escrituras, busca da santidade, novos métodos de evangelização, manifestação de carismas e ministérios, vínculos de fraternidade, vida comunitária… Os leigos hoje estão em ação e a Igreja se vê empenhada na Nova Evangelização.
Ora, já se passaram 50 anos do encerramento do Concílio, verdadeiro jubileu, e por isso quero chamar a sua atenção para o significado de um jubileu, sobretudo você que discerniu ser a Comunidade Fanuel o seu lugar e o seu estilo próprio de ser Igreja, ou mesmo você que, embora não possua vínculos formais com a Vocação, bebe de alguma forma do Carisma.
JUBILEU
Na tradição bíblica o jubileu é um tempo de graça. Celebrá-lo significa reconhecer o tempo como um dado precioso, pois foi nele que Deus fez o mundo, revelou-Se e desenrolou a história da salvação, cuja plenitude é Cristo (cf. Gl 4,4). É no tempo que o Senhor envia a Igreja e assegura Sua presença (cf. Mt 28,19-20).
É desta relação de Deus com o tempo que nasce o nosso dever de o santificar. Os judeus costumavam celebrar o jubileu a cada 50 anos, mas o pano de fundo desta celebração é a dedicação de um dia ao Senhor. Eles trabalhavam 6 dias e guardavam o sétimo – o “sábado” (cf. Ex 20,8-11; 23,12) –, trabalhavam 6 anos e guardavam o sétimo – o “ano sabático” (cf. Ex 23,10-11) – e trabalhavam “sete semanas de anos, ou seja, sete vezes sete anos, o que dá quarenta e nove anos” (Lv 25,8) e, então, celebravam o “ano jubilar”.
No 50º ano era preciso tocar a trombeta por todo o país (cf. Lv 25,9). Tal gesto declarava a santidade do quinquagésimo ano, santidade que se expressava em um ato concreto: os presos eram soltos (cf. Lv 25,9-10). Era o fim das dívidas, a libertação dos escravos, o resgate das propriedades, o ano do perdão!
DESFRUTAR A BÊNÇÃO
O jubileu não era um ano de trabalho, mas de desfrute. Nele não se semeava e somente poderia comer dos campos não cultivados. Parece estranha a ideia, mas era exatamente assim, tanto que o Senhor disse:
“Cumpri minhas leis e observai meus decretos. Ponde-os em prática e vivereis seguros na terra. A terra dará seus frutos, comereis a fartar e habitareis em segurança. Se perguntardes: ‘Que comeremos no sétimo ano, se não semearmos nem colhermos a safra?’, no sexto ano, eu vos mandarei a minha bênção, que vos garantirá uma produção de três anos” (Lv 25,18-22).
Acredito que a Providência Divina, justamente neste ano jubilar pós-conciliar, escolheu que fosse um ano de graça na vida de nossa Comunidade. Creio sim que o Senhor quis que na comemoração de nossos 20 anos de fundação recebêssemos a graça imerecida e incalculável chamada reconhecimento canônico.
A TROMBETA
O que celebraremos no próximo dia 14 de fevereiro, na Catedral de Nossa Senhora do Carmo, em Santo André, marcará para sempre a nossa história e nos abrirá novas perspectivas. Nosso querido Bispo Diocesano, Dom Nelson Westrupp, SCJ, “soará a trombeta” do reconhecimento canônico dos nossos estatutos e, doravante, seremos chamados Comunidade Católica Fanuel (cf. CDC, can. 298-300).
Tal reconhecimento não é fruto de nosso trabalho, nem do fundador nem do mais novo discípulo, mas é graça. Com isto quero dizer que não é merecimento ou conquista, mas tão somente a misericórdia divina sendo manifestada entre nós. O reconhecimento não é colheita da nossa semeadura, mas faz parte da produção de frutos que o próprio Senhor faz acontecer no jubileu. Ele inspirou este carisma, Ele lhe deu forma, Ele o purificou, Ele o manteve vivo até aqui e, agora, pelo ministério da Igreja, Ele reconhece, autentica, consolida e envia.
“A terra dará seus frutos, comereis a fartar e habitareis em segurança…”.
A Igreja diocesana nos acolhe e isto significa que o Senhor nos coloca em segurança. A autoridade eclesial, ao reconhecer os estatutos, propõe o Carisma como uma via de santificação, vendo nele conformidade com a doutrina, a disciplina e a integridade dos costumes cristãos e eclesiais.
O momento, portanto, é de celebração e desfrute. Vamos comer dos campos não cultivados por nós!
VIVER 2015
Temos de viver assim 2015, fazendo memória destes nossos 20 anos, enquadrando-os na linha do tempo da Igreja, enxergando-nos dentro desta corrente de graça pós-conciliar que é o movimento carismático e, assim, deixar que o Senhor nos reinflame nas motivações de pertença e consagração, que nos leve a conhecer mais e mais de Seu Rosto, de nossa espiritualidade e missão; que Ele nos leve a uma real “liberdade” na vivência da vocação, pois é jubileu e a trombeta está sendo soada para nós, isto é, a Igreja nos está acolhendo como filhos e nos dando liberdade de ação, nos incentivando a seguir em frente, vendo e fazendo Ver o Rosto de Cristo, no templo e pelas casas, com Teresinha e a Mãe de Misericórdia, apoiados na Palavra e de joelhos diante do Santíssimo, com o coração a arder no desejo de ganhar mais pessoas e com elas viver o Evangelho em comunidade, multiplicando-nos e crescendo em todas as dimensões.
Por Cesar Machado Lima
Comunidade Fanuel – Presença Campo Grande