Assistir aos defuntos (parte 2)
“O último inimigo que será destruído é a morte” (1 Cor 15,26).
Estudaremos hoje a respeito de nosso trato de misericórdia com aqueles que perdem seus entes queridos.
De início afirmamos que Deus não criou o homem para morte (cf. Sb 2,23-24). Ela é consequência do mau uso do livre-arbítrio, salário do pecado (cf. Gn 2,17; Rm 6,23). Ela é inimiga de Deus (cf. 1 Cor 15,25-26).
Para nos salvar, o Filho de Deus assumiu nossa natureza humana e provou da morte, a fim de destruir o Diabo, que tinha poder sobre a morte, e libertar os que são escravos do medo da morte (cf. Hb 2,14-15). Na Cruz o império da morte caiu (cf. Rm 5,17) e Deus nos possibilitou uma vida eterna (cf. Jo 3,16).
Sempre pensar na morte, preparando-nos para o encontro com Deus – É verdade que a vida terrena tem um fim. Mesmo que não gostemos de pensar, um dia morreremos. Também é verdade que a vida é um tesouro que não pode ser desperdiçado. Ela é breve, por isso tem de ser vivida com excelência, sem estarmos presos às feridas do passado ou ansiosos com o futuro. E é verdade também que a maneira como vivemos o presente determinará como será nossa eternidade. Por isso, quando alguém parte para a eternidade, temos de aproveitar a ocasião para uma revisão de vida, questionando: “E se fosse eu, estaria pronto pra o céu?”. Mas além desta atitude, temos de cuidar daqueles que perderam o ente querido.
Vencendo a dor da morte de parentes e amigos – É preciso ajudar a família a compreender que nossa esperança vai além desta vida (cf. 1 Cor 15,19), e que a morte – por causa da ressurreição de Cristo – significa uma passagem, de modo que a vida não é tirada, mas levada à sua plenitude. Disse Santa Teresinha, que morreu aos 24 anos de idade: “Não morro, entro na vida”.
Vencendo a dor da morte de parentes e amigos – toda perda traz uma triste sensação de vazio irreparável, como se algo tivesse sido rompido. Provar e chorar esta dor é sinal de nossa humanidade. A pessoa de fé não pode vacinar-se contra o luto, como se fosse de ferro, e o Evangelho não nos torna imunes à doença, à dor e aos sofrimentos. O nosso exemplo é o próprio Cristo, que não temeu chorar em público a dor da morte de um amigo (cf. Jo 11,35). Chorar é uma bem-aventurança e aflições fazem parte da vida cristã (cf. Mt 5,4; Jo 16,33). Faz parte, portanto, dessa obra de misericórdia desconstruir o “mito do super-homem”, ajudando a pessoa enlutada a extravasar sim sua dor, mas fazer isto na presença consoladora do Senhor.
Também temos de ajudar os enlutados a encontrar em Cristo o consolo e o alívio para a dor (cf. Mt 11,28). É normal que as pessoas desabafem sua decepção com Deus, como Marta (cf. Jo 11,21). Nossa postura deve ser como a de Jesus, o silêncio. Não podemos censurar. O melhor que podemos fazer é estar presentes, ouvir e rezar, sem nos preocupar com respostas positivas.
Por fim, é importante adotar estas três atitudes: 1) procurar lembrar o enlutado dos bons momentos vividos com a pessoa que partiu; 2) agradecer a Deus o tempo de convivência com a pessoa, não dando espaço a sentimentos de culpa ou perguntas, do tipo: “Por que comigo? Por que agora?”; 3) entregar a pessoa nas mãos do Senhor, com uma breve oração (aqui você ajuda a pessoa a se reconciliar com Deus).