Perdoar as injúrias (parte 4)
“De vossa boca não saia nenhuma palavra maliciosa, mas somente palavras boas, Capazes de edificar e de fazer bem aos ouvintes” (Ef 4,29).
O poder de nossas palavras
Está escrito em 1 Pd 3,10-12: “…Quem quiser gozar a vida e ter dias felizes não fale coisas más e não conte mentiras. Afaste-se do mal e faça o bem; procure a paz e faça tudo para alcançá-la. Pois o Senhor olha com atenção as pessoas honestas e ouve seus pedidos, porém é contra os que fazem o mal”.
A palavra é tão importante para Deus que por meio de uma Palavra Ele criou os céus e a terra, e também por meio desta mesma Palavra, que se encarnou, Ele redimiu a criação. Esta Palavra criadora e redentora é o Filho de Deus, o Senhor Jesus Cristo, que “sustenta o Universo com a sua palavra poderosa” (1,3b).
Tendo sido feito à imagem de Deus, o ser humano igualmente tem uma grande arma à sua disposição, que tanto pode edificá-lo, como destruí-lo. Trata-se da palavra.
De acordo com São Pedro gozará da vida e terá dias felizes aquele que utilizar-se de palavras boas, ou, aquele que evitar falar coisas más e mentirosas. Por algum motivo Deus serve-se de nossas palavras para moldar ou transformar as nossas vidas.
As palavras nos são essenciais, pois tem a capacidade de comunicar, de expressar o que pensamos e sentimos. Veja, ler e escrever não é algo natural, pois se não nos ensinassem provavelmente não aprenderíamos, mas a fala nos vem com naturalidade, a partir da imitação do que ouvimos.
Quando o assunto é perdão, temos de ter presente que as nossas palavras, como disse o Senhor, devem transbordar o que está em nosso coração (cf. Mt 12,34b). Mas coração, nas Escrituras, não tem tanto a ver com o nosso conceito atual de coração, que é mais ligado a afetos e emoções. O coração identifica-se mais com a mente, como ensina o Catecismo: “O coração é a casa em que estou, onde moro. Ele é nosso centro escondido, inatingível pela razão ou por outra pessoa; só o Espírito de Deus pode sondá-lo e conhecê-lo. Ele é o lugar da decisão, no mais profundo de nossas tendências psíquicas. É o lugar da verdade, onde nós escolhemos a vida ou a morte (…)” (n. 2563).
Mesmo que nossos sentimentos ainda estejam feridos, ou que lembranças dolorosas transitem em nossa memória e ideias de vingança em nossa imaginação, desde o coração temos de deixar que o Espírito de Deus, que nos sonda e conhece, leve-nos à decisão pela vida, isto é, pelo perdão, paz e libertação. E quando o coração está curado e protegido pelo Espírito temos condições de evitar palavras destrutivas e mentirosas sobre aqueles que nos feriram. Ao contrário, passamos a nos exercitar a dizer palavras boas.
É preciso afastar-se do mal, não ficar preso às obras injuriosas do maligno, recordando os males e mágoas. Mas também é preciso fazer o bem, ou seja, buscar a Deus, orar e declarar palavras abençoadoras sobre as pessoas. Quando agimos nossas orações são atendidas, temos paz e crescemos na vida com Deus.