Visitar os encarcerados (parte 3)
“Nosso Deus é um Deus de libertações, do Senhor Iawheh são as portas da morte” (Sl 68,21/Bíblia de Jerusalém).
A Fé Cristã confessa que Nosso Senhor Jesus Cristo, após a morte, desceu aos infernos para libertar todos quantos aguardavam a manifestação do Reino de Deus. Seu Corpo Santíssimo ficou na Cruz e depois no Sepulcro, mas com a Sua alma esteve na Morada dos Mortos, não como mais um morto, mas como Salvador, proclamando a boa notícia aos espíritos que ali estavam aprisionados (CAT, 632).
As Escrituras chamaram este “lugar” de infernos, ou sheol, ou hades, visto que os que lá se encontravam estavam privados da visão de Deus (CAT, 633). Este cárcere (cf. 1 Pd 3,18-20) não era exatamente um lugar físico, geográfico; tratava-se de um estado de alma, no qual tanto os justos como os maus se encontravam à espera do Redentor, embora a sorte deles não fosse idêntica (cf. Lc 16,19s).
Portanto, a Mansão dos Mortos não era a triste realidade do inferno, da qual os condenados jamais podem sair (nem os demônios, nem os homens), tampouco era a feliz sorte dos santos, o céu, pois nele não há prisões e angustias, nem mesmo o purgatório, destinado aos que morrem na graça e amizade com Deus, mas carecem de uma total purificação.
Seja como for, neste “lugar” chamado Mansão dos Mortos o Senhor Jesus realizou duas grandes obras, indo até o extremo de Sua missão e apostolado:
a) ANUNCIOU O EVANGELHO. “Pois o evangelho foi anunciado também aos mortos, os quais morreram por causa do julgamento de Deus, como morrem todos os seres humanos. O evangelho foi anunciado a eles a fim de que pudessem viver a viva espiritual como Deus quer que eles vivam” (1 Pd 4,6);
b) LIBERTOU OS CATIVOS E LHES DEU DONS. “…Quando ele subiu aos lugares mais altos, levou consigo muitos prisioneiros e deu dons às pessoas. O que quer dizer “ele subiu”? Quer dizer que ele também desceu até os lugares mais baixos da terra, isto é, ao mundo dos mortos. Assim, quem desceu é o mesmo que subiu, acima e além dos céus, para encher todo o Universo com a sua presença” (Ef 4,8-10).
Todos na Mansão dos Mortos – frisou bem o Catecismo da Igreja Católica –, careciam do mesmo problema: eram incapazes de ver a Face de Deus (n. 633).
Ora, assim como os antigos cativos da Mansão dos Mortos, muita gente está “vivendo” na Mansão dos Mortos. Tem a vida biológica em funcionamento, possui sim uma alma espiritual e a capacidade de conhecer e amar a Deus, porém, esta alma espiritual está atrofiada, porque cativa e aprisionada no pecado. Sim, muita gente, dentro e fora das igrejas, ainda não teve um encontro pessoal com a Face de Deus revelada em Cristo. Por isso não foram levantadas por Cristo nem receberam da plenitude de Seus dons. Nossa missão, portanto, é contemplar o Cristo desfigurado em cada cativo de nosso oikos, pregar-lhes o Evangelho e levá-los à salvação, que não somente livra, mas cumula a pessoa de dons e riquezas incontáveis de Sua graça.