Visitar os encarcerados (parte 4) – “Se, portanto, o Filho vos libertar, sereis verdadeiramente livres” (Jo 8,36).
Foi Nosso Senhor quem afirmou: “Estava na prisão e viestes a mim…” (Mt 25,36). Esta presença de Cristo, não apenas no faminto ou sedento, mas também no encarcerado é um grande mistério.
Em outro estudo víamos o Senhor Jesus dirigindo-se à prisão espiritual chamada Mansão dos Mortos para pregar liberdade aos que em vida buscaram a Deus. No evangelho de Mt 25,36 o Senhor não apenas dirige-se a um cárcere, mas afirma estar presente nos presos, independente de sua condição, e afirma que quem visita um preso está visitando-O.
A Igreja possui um ministério específico com pessoas presas, a Pastoral Carcerária, que tem por objetivo evangelizar e promover a dignidade humana dos encarcerados, tentando colaborar para que os seus direitos humanos sejam garantidos, ao invés de serem tratados como animais em ambientes inadequados (lotados, sujos, violentos etc.), entre outros objetivos. O Papa Francisco mesmo, sempre que pode, procura ir ao encontro dos presos, dentro e fora da Itália, no intuito de deixar um exemplo, sobretudo aos cristãos. Mas não podemos negar que o interesse de envolvimento neste ministério é muito pequeno ainda. Em partes porque naturalmente temos medo de presídio, em partes por causa do preconceito ou porque as estruturas se segurança em nosso país são complicadas… Seja como for, não podemos fingir que estas pessoas e suas famílias não existem, nem considerar que este apostolado é sem importância.
Vamos nos recordar do programa de evangelização de Jesus, que afirmou ter sido ungido para anunciar aos cativos a Redenção (cf. Lc 4,19). Sem duvida alguma tal missão comporta um risco, mas o que é a evangelização senão uma grande tarefa, que sempre implicou riscos, a começar do terrível martírio das primeiras gerações cristãs, passando pelo cruel martírio atual da “primavera árabe”!?
Jesus não somente habita misteriosamente nos presos, como deixou-se prender injustamente. São Paulo e os seus companheiros igualmente provaram cadeias várias vezes, inclusive numa delas o apóstolo discipulou Onésimo, a quem chamou de “filho” (cf. Fm 8s). Por causa de sua presença no cárcere, ainda que como prisioneiro e de modo injusto, chegou-nos a belíssima promessa de salvação contida em At 16,31, fruto da evangelização de São Paulo ao carcereiro que desesperou-se da própria vida…
Enquanto para uns poucos a prisão é um “ambiente de trabalho”, de onde falam com seus “clientes” ou “funcionários” do tráfico ou do roubo, onde recebem visitas íntimas e possuem até luxo, para a maioria é lugar de vergonha e humilhação, onde “vivem” sem perspectiva de futuro e liberdade. Certamente a maioria não conhece a Cristo nem experimentou o Amor do Pai, “porém, como invocarão aquele em quem não têm fé? E como crerão naquele de quem não ouviram falar, se não houver quem pregue?” (Rm 10,14).
Peçamos ao Senhor que nos dê a graça de fazer missão nesta “Mansão dos Mortos”, ou, ao menos junto de famílias que sofrem com a prisão dos seus, pois de algum modo eles também estão presos na vergonha, na tristeza, no desespero, muitas vezes “enjauladas” por causa do nosso preconceito e indiferença.