Reflexão sobre o dom e a bênção de ter filhos.
Já lhe passou pela cabeça imaginar pessoas que tem fé em Deus se recusar a receber bênçãos em sua vida e “se planejarem” para não serem agraciadas? Difícil, né!? Porque se há uma coisa que as Escrituras tratam e que o povo de Deus gosta são de bênçãos!
Contudo, gostaria de mostrar em algumas reflexões – começando por esta – que a primeira e mais nobre das bênçãos registradas nas Escrituras há algumas décadas não somente não tem sido buscada diante de Deus em oração, como tem sido covardemente evitada em nome de um tal “planejamento familiar em tempos economicamente difíceis de criar filhos”…
A bênção número 1 das Escrituras praticamente não está incluída nas listas de prioridades de tantos casais modernos e, quando consta, estes não se dão o direito de repeti-la…
Refiro-me à bênção de Gn 1,27-28: “Assim Deus criou os seres humanos; ele os criou parecidos com Deus. Ele os criou homem e mulher e os ABENÇOOU, dizendo: Tenham muitos e muitos filhos…”.
Atualmente muitos cristãos têm descoberto princípios maravilhosos nas Escrituras e adotado uma postura de fé contagiante para alcançar tudo o que Deus lhes prometeu, como saúde, prosperidade material, multiplicação no ministério etc., mas é curioso que não se vê a mesma determinação quando o assunto é a geração de filhos. E isto refiro-me a cristãos, católicos ou não…
Ora, não haviam problemas de saúde, nem empresas, tampouco igrejas quando a primeira bênção nos foi dada. Portanto, antes de querer nos abençoar em outras áreas da vida, Deus nos quis abençoar como famílias. Sim, o alvo da primeira bênção era o casal, pois a família é a primeira instituição divina na terra! E a bênção dos filhos – que também é ordem, porquanto Ele disse: “Multiplicai!” – nunca foi e nunca será revogada, mesmo que a lógica materialista que rege a sociedade nos queira convencer de recusar a bênção dos filhos e, assim, nos leve a desobedecer a uma ordenança divina.
Gerar filhos faz do casal parceiros de Deus. Todo casal possui uma vocação, que é crescer em amor (dimensão unitiva) e multiplicar em filhos (dimensão procriativa) e está no “DNA” do pacto matrimonial essa comunhão de toda a vida ordenada ao bem dos cônjuges e à procriação e educação de filhos (Catecismo da Igreja Católica, 1601).
Deus, que é amor, é o autor do matrimônio, este instrumento privilegiado de vivência da maior vocação humana que é amar. Entenda: o mesmo Deus que não quis que o ser humano permanecesse sozinho, pois isso não era bom (cf. Gn 2,18), abençoou a união conjugal com o dom da fecundidade, pois isto é muito bom (cf. Gn 1,31).
O Deus que nos casa é o mesmo que nos torna pais e mães (co-criadores), seja pelo milagre da geração natural de filhos, seja por meio do nobre gesto de amor que é a adoção. De um ou outro modo Deus quer que todo casal desfrute da benção da fecundidade e da geração e educação de filhos. Está aqui a missão de um casal, a sua mais sublime vocação.
Nenhum Estado possui o direito de redefinir o padrão familiar instituído por Deus. Mas ontem o mundo noticiou o fim do vergonhoso regime chinês da lei do filho único, que faz desaparecer ao menos na teoria o esquema 4-2-1: toda criança tem 4 avós, 2 pais e… mais ninguém, porque não podia ter irmãos. Mas a nova regra continua distante do plano divino, porque agora os casais poderão ter dois filhos!
Mas o pior de tudo é que a motivação é econômica. Ou seja, querem mais filhos na sociedade para terem mais empregados [escravos] a serviço do deus mercado de trabalho. Com isso a China passará a ter mais filhos? Talvez, porque o que mais os noticiários deixam claro é que boa parte das mulheres já está tão familiarizada com este padrão que não quer mais filhos! Mas mesmo que a minoria passe a ter mais um filho, não conseguirá ultrapassar a baixa média mundial do número de filhos, que em termos gerais não passa de dois por casal, média inclusive do Brasil, que ainda se gloria de ser cristão, diferente da China.
Em 2 de abril de 2014 disse o Papa Francisco em uma catequese: “O matrimônio é o ícone do amor de Deus por nós”. Isto significa que todo casal reflete em si os próprios traços e o caráter indelével do amor de Deus. Assim como Deus é comunhão na Trindade, o casal é comunhão na vivência do sentido unitivo e do sentido procriativo de seu matrimônio.
Deus é amor e isto o impele para fora de si, tanto no ato da criação quanto no ato da redenção, em Jesus. O amor de Deus se expressa criando e salvando, ou seja, se doando, repartindo, cuidando, se responsabilizando por nós. E é isto o que Ele espera de cada casal. Que cada um saia de si, da sua terra, de sua parentela, de seu mundinho e se una de corpo e alma ao outro, tornando-se uma só carne (cf. Gn 2,24). E em um segundo momento, que cada casal igualmente saia de si, abrindo-se à geração de filhos para reproduzir os traços de Deus: doação, cuidado, responsabilidade!
Por Cesar M. Lima – Comunidade Fanuel