“Meu bem-amado disse-me: ‘Levanta-te, minha amada; vem, formosa minha. Eis que o inverno passou: cessaram e desapareceram as chuvas. Apareceram as flores na nossa terra, voltou o tempo das canções…’” (Ct 2, 10-12a)
O maravilhoso livro de Cântico dos cânticos é um presente inestimável do amor de Deus para as almas; eu particularmente sou encantado com este livro e a sabedoria espiritual que ele contém, arrisco a dizer que ao lado dos Evangelhos é um dos mais belos livros das Escrituras Sagradas.
Veja como Deus nos presenteia com estas palavras acerca do início da primavera em Seu amor. Sim, da mesma maneira que a natureza se regula pelas quatro estações, assim também a evolução da alma tem as suas quatro estações, Deus mesmo anseia por elas e particularmente pela primavera, que é a mais bela de todas as estações.
A primavera da alma é também a estação das flores e dos pássaros, é o renascimento da vida, o reverdejar dos campos e a revoada das borboletas. Nossas almas precisam de tempos primaveris, de sol brando e brisa refrescante, de temperatura amena e de claridade. Como é bela a alma tomada por esta presença doce e serena de Deus.
Nosso Senhor disse: “Se alguém me ama, guardará a minha palavra e meu Pai o amará, e nós viremos a ele e nele faremos nossa morada.” (Jo 14, 23). Esta habitação de Deus na alma, esta morada interior da Santíssima Trindade, torna a vida um estado primaveril que prepara os grandes frutos da santidade. O inverno como estação fria e de secura pode ser comparado ao estado da alma no gelo do pecado, no distanciamento da comunhão; mas então, quando a alma se abre para o acolhimento da graça, passa o tempo gélido e inerte e a vida começa a brilhar e a alcançar todo o ser.
A primavera da alma também se expressa na comunhão dos irmãos, porque onde Deus está, aí está o amor, não apenas o amor de amigos, mas o amor sublime que conduz à vida fraterna e que só pode ser conseguido em Jesus Cristo. Se iludem as pessoas e as Nações que esperam a cordialidade e a fraternidade entre os homens sem considerarem Nosso Senhor Jesus Cristo como o único capaz de produzi-las. Não são acordos, não são decretos, menos ainda ideologias… não há estudos, nem convenções internacionais que possam produzir a verdadeira primavera do amor; os artistas e suas obras não podem gerá-la, talvez alguns mais sensíveis possam reproduzi-las, as religiões não podem consumá-las, no máximo podem refletir a respeito, os empenhos filosóficos e políticos não podem implantá-las, se sujeitos ao Senhor podem cooperar apenas; só Jesus Cristo na alma pode trazer a primavera, somente Ele pode tirar-nos a nós e ao mundo, do inverno do pecado e da frieza das relações, e isto Ele o faz por aquela que não é apenas uma religião, uma filosofia, um organismo político, Ele o faz pela Santa Igreja Católica porque ela é Seu Corpo Místico no mundo e somente suas comunidades podem manifestar a plenitude do amor de Deus. Por isso, saia do inverno, venha ao encontro do Amado das almas no jardim que Ele plantou sobre a Terra.
Na cruz a morte e o tempo frio já foram vencidos, venham almas sedentas e encontrem refúgio e paz em Jesus Cristo e na Santa Igreja.
Sandro Fatobene Peres, fundador da comunidade Fanuel, Rosto de Deus.