Neste pequeno trecho comentado da Encíclica Mediator Dei, de Pio XII, temos que procurar discernir de forma profunda, qual é o “elemento essencial do culto” e o verdadeiro valor que precisamos dar-lhe.
“Todo o conjunto do culto que a Igreja rende a Deus deve ser interno e externo. É externo porque o exige a natureza do homem composto de corpo e alma; porque Deus dispõe que “pelo conhecimento das coisas visíveis sejamos atraídos ao amor das invisíveis”; porque tudo o que vem da alma é naturalmente expresso pelos sentidos; e ainda porque o culto divino pertence não somente ao particular mas também à coletividade humana e conseqüentemente é necessário que seja social, o que é impossível, no âmbito religioso, sem vínculos e manifestações exteriores; e, enfim, porque é um meio que põe particularmente em evidência a unidade do corpo místico, acrescenta-lhe santos entusiasmos, consolida-lhe as forças, intensifica-lhe a ação: “se bem que, com efeito, as cerimônias, em si mesmas, não contenham nenhuma perfeição e santidade, são todavia atos externos de religião que, como sinais, estimulam a alma à veneração das coisas sagradas, elevam a mente à realidade sobrenatural, nutrem a piedade, fomentam a caridade, aumentam a fé, robustecem a devoção, instruem os simples, ornam o culto de Deus, conservam a religião e distinguem os verdadeiros dos falsos cristãos e dos heterodoxos.
Mas o elemento essencial do culto deve ser o interno. É necessário, com efeito, viver sempre em Cristo, dedicar-se todo a ele, a fim de que nele, com ele e por ele, se dê glória ao Pai. A sagrada liturgia requer que estes dois elementos estejam intimamente ligados; o que ela não se cansa jamais de repetir toda vez que prescreve um ato externo de culto. Assim, por exemplo, a propósito do jejum, nos exorta: “a fim de que se opere de fato em nosso íntimo o que a nossa observância professa externamente”. De outro modo, a religião se torna um formalismo sem fundamento e sem conteúdo. Sabeis, veneráveis irmãos, que o divino Mestre considera indignos do templo sagrado e expulsa dele os que creem honrar a Deus somente com o som de bem construídas palavras e com atitudes teatrais e estão persuadidos de poder prover de modo adequado à sua salvação sem arrancar da alma os vícios inveterados”. A Igreja, portanto, quer que todos os fiéis se prostrem aos pés do Redentor para professar-lhe o seu amor e a sua veneração; quer que as multidões, como as crianças que andaram ao encontro de Cristo quando entrava em Jerusalém com alegres aclamações, acompanhem o Rei dos reis e o sumo autor de todos os benefícios, aclamando-o com o canto de glória e de agradecimento; quer que haja orações em seus lábios, ora súplices, ora alegres e agradecidas, com as quais, como os apóstolos junto ao lago de Tiberíades, possam experimentar o auxílio de sua misericórdia e de seu poder; ou como Pedro, no monte Tabor, a Deus se abandonem e a todas as suas coisas nos místicos transportes da contemplação.
Não têm, pois, noção exata da sagrada liturgia aqueles que a consideram como parte somente externa e sensível do culto divino ou como cerimonial decorativo; nem se enganam menos aqueles que a consideram como mero conjunto de leis e preceitos com que a hierarquia eclesiástica ordena a realização dos ritos.
Deve, portanto, ser bem conhecido de todos que não se pode honrar dignamente a Deus, se a alma não cuida de conseguir a perfeição da vida, e que o culto rendido a Deus pela Igreja em união com a sua Cabeça divina tem a eficácia suprema de santificação.”
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA:
. Papa Pio XII. Encíclica Mediator Dei, de 20 de novembro de 1947, nn. 20-23
Sérgio Luiz Matias – Consagrado da Comunidade Fanuel