Liturgia, unindo a Terra ao Céu!

A liturgia terrestre, em todos os seus atos, é um reflexo da liturgia celeste. Os nossos louvores sobem ao céu e unem-se aos dos santos e dos anjos, pois, como único Corpo Místico de Cristo que somos, como uma única Comunhão dos Santos, como uma única Igreja santa e católica, nossas atitudes de reverência à Trindade devem ser apresentadas como se fossem um só cântico: multiplicam-se as vozes, mas o hino é uníssono!

Nas diferentes ações litúrgicas essa unidade se reflete de modos diversos.

Dessa forma, na administração dos sacramentos, por exemplo, também o céu se une à terra. Sendo sinais visíveis da graça invisível, que nos foi conquistada na Cruz, e esta uma ponte que une as realidades terrenas e celestes, os sacramentos são verdadeiros canais que partem de Deus para nós. A graça, dissemos, nos foi merecida pelo sacrifício único de Nosso Senhor Jesus Cristo na Cruz, constituindo-se tal oferta uma ponte para o trono de Deus. Os sacramentos, canais dessa graça, fluem de Deus e nos banham com a mesma graça que produzem e significam. Por isso, os sacramentos são os bens dados do céu aos servos amados de Deus na terra; por eles chegamos ao céu: eis as relações entre as duas Igrejas, triunfante e militante – e até a padecente no Purgatório.

Por sua vez, na Liturgia das Horas entoamos salmos e hinos que se unem àqueles eternamente cantados pelos anjos do céu. “Na minha visão ouvi também, ao redor do trono, dos Animais e dos Anciãos, a voz de muitos anjos, em número de miríades de miríades e de milhares de milhares, bradando em alta voz: ‘Digno é o Cordeiro imolado de receber o poder, a riqueza, a sabedoria, a força, a glória, a honra e o louvor.’ E todas as criaturas que estão no céu, na terra, debaixo da terra e no mar, e tudo que contém, eu as ouvi clamar: ‘Àquele que assenta no trono e ao Cordeiro, louvor, honra, glória e poder pelos séculos dos séculos.’ E os quatro Animais diziam: ‘Amém!’ Os Anciãos prostravam-se e adoravam.” (Ap 5,11-14) A cada hora canônica celebrada no Ofício Divino, somam-se as vozes e todos se congregam numa só comunidade em adoração ao Deus Eterno. Das lições da Liturgia das Horas, retiramos as preciosas leituras da Sagrada Escritura, dos Padres e dos Santos, que nos dão a esperança de participar um dia da Igreja celeste que, em coro, tributa louvores ao Criador.

A unidade entre o céu e a terra é fato em todas as ações litúrgicas. Não seria diferente na Santa Missa, liturgia por excelência! Se os sacramentos partem da Cruz, ponte entre o céu e a terra, entre Deus e os homens, e atestam a unidade entre os terrenos e os celícolas – os moradores do céu –, há muito mais razão em afirmar essa plena comunhão quando a própria Cruz, e não seus sinais apenas, se faz presente. E a Missa, sabemos, é a Cruz tornada presente! O céu e a terra se unem! Os anjos participam da Missa! O Santo Sacrifício celebrado é a porta que nos leva ao céu: estando aberta, temos acesso às maravilhas celestes, e miríades de anjos rondam as igrejas e os altares quando o padre oferece Cristo ao Pai por nossos pecados. “Era opinião de São João Crisóstomo, opinião aprovada e confirmada por São Gregório, no quarto de seus Diálogos, que no momento em que o padre celebra a Missa os céus se abrem e multidões de anjos descem do Paraíso para assistir o Santo Sacrifício. São Nilo Abade, discípulo do mesmo São João Crisóstomo, afirma que via, quando este santo doutor celebrava, uma grande multidão daqueles espíritos celestes assistindo os ministros sagrados em suas augustas funções.”

Na Santa Missa, a Igreja mostra sua unidade, pois um só é o sacrifício! Jesus não morre várias vezes, senão uma só, na Cruz, e seu sacrifício é único e suficiente; a Missa só o atualiza: é o mesmo, e não um outro! Se o sacrifício é único, a Igreja, de todos os tempos, lugares e condições, do céu e da terra, que o oferece, também é única. A Igreja está oferecendo um só sacrifício, e nisso está também sua unidade sobrenatural. Ao participar de uma Missa hoje, em qualquer paróquia, me uno ao fiel que participou da Missa há dois séculos na China, e ambos estamos unidos aos santos do Céu e às almas do Purgatório. Anjos, homens da Igreja Militante, homens da Igreja Triunfante, homens da Igreja Padecente, todos nos unimos em cada Missa celebrada, atualização do único sacrifício oferecido.