MISERICÓRDIA E FÉ APARENTE

 

 

 

 

 

 

Os homens de nosso tempo incorrem em grave perigo de viver plenamente o que profetizou São Paulo, quando escrevendo a São Timóteo disse: “…nos últimos dias haverá tempos difíceis. Pois muitos (…) parecerão ser seguidores da nossa religião, mas com as suas ações negarão o verdadeiro poder dela.” (2 Tm 3,1-2a.5ab).

Afirmo isto com a certeza de que, mesmo envoltos em aspectos da religião verdadeira, as pessoas podem desdizê-la em suas ações e que isto a cada dia mais se torna evidente, não pelo agravamento de uma certa incoerência e até certo ponto contra-testemunho daqueles que professam a fé em Deus, Nosso Senhor, mas deslizam diante de tentações e pouco se esforçam por tornar em obras de misericórdia o que professam como fé.

Em nossos dias a Lei de Deus é desrespeitada e muitas vezes torcida para adaptar-se aos tempos modernos de uma cultura anticristã. No afã de tornar-se aceitáveis e adaptados aos “sinais dos tempos” muitos cristãos, sozinhos e em grupos, leigos e infelizmente prelados, acabam por fazer concessões graves aos costumes corrompidos, sob o pretexto da misericórdia e de renovadas práticas pastorais e evangelizadoras.

Muitos há que se ocupam em fazer ajustes e reformas em planos de evangelização e pastorais para incluir o maior número possível de gente na Igreja, quer sejam nas celebrações quer sejam nas ações e, assim, não fazem caso de que possam estar desobedecendo a Nosso Senhor Jesus Cristo, mesmo em pontos tão certamente e definitivamente definidos e reiteradamente afirmados como tais pelo Magistério da Igreja por dois milênios.

Me dedico hoje a esta reflexão motivado pelo que li nas Escrituras segundo a liturgia diária que nesta data nos leva aos textos de 1 Sm 4,1-11 e Mc 1,40-45; no primeiro texto vemos o conflito entre os filisteus e os israelitas, e como depois da derrota dos hebreus em um combate eles quiseram colocar a Arca da Aliança em seu meio para assim ganharem a guerra. Com a Arca vieram Ofni e Fineas, os dois sacerdotes filhos de Eli que cuidavam do santuário e do culto.

Em vão foi a chegada dos utensílios e dos homens sagrados, pois perderam não só a próxima batalha como também a posse da Arca e ainda Ofni e Fineas foram assassinados. No Evangelho deste dia lemos a cura que Nosso Senhor operou na vida de um leproso e de como o orientou severamente dando-lhe ordens claras, as quais o homem agraciado com a cura não cumpriu e assim prejudicou o ministério do Divino Salvador.

As duas passagens nos mostram um mesmo ensinamento, de que nada serve o culto a Deus e a manutenção da relação com suas obras se na realidade não se Lhe obedece plenamente. Ofni e Fineas são símbolos de maus sacerdotes, impuros e desobedientes que faziam pouco caso da Lei divina e eram simples administradores da religião, legítimos nas ordens sagradas e nas funções confiadas, mas crentes de que poderiam fazer como bem entendiam e torcer a Lei ao seu bel prazer e aos seus conchavos terrenos.

Caminhavam no erro e levavam o povo de Deus às derrotas até o ponto de serem humilhados, vendo desolado o tabernáculo com a abominação do roubo do propiciatório divino. O leproso do Evangelho aproximou-se de Cristo e com aparente humildade, manifestou uma fé legítima e conseguiu o obséquio da graça, mas desobedeceu gravemente ao Senhor Jesus que o orientou e deu ordens segundo a Lei de Deus.

Nos dois casos vemos que a religião é usada de maneira legítima mas desdenhada pela desobediência por causa da arrogância humana que, pensando poder torcer o que Deus ordenou, faz o que bem entende, inclusive com a intenção inicialmente boa de dar maior fama a Deus e à Sua causa.

Deus não precisa de apoio humano para Suas obras e nem de ajeitamentos pastorais para ganhar créditos entre as pessoas. Deus não precisa certamente que nós forcemos situações para que Ele tenha um lugar em nossa sociedade; Deus deseja simplesmente que Lhe sejamos fiéis completamente e chamemos mau o que é mau e bem ao que é bem, que vivamos de acordo com a Sua Lei e anunciemos a verdade obedecendo-Lhe em tudo.

A intenção de salvar o povo e de manifestar o poder de Nosso Senhor Jesus Cristo não pode ser justificada pela desobediência, ainda que esta esteja disfarçada sob pretensa misericórdia e evangelização.

A verdade não precisa de propaganda, apenas de obediência; se isso torna impopular a mensagem que pregamos é porque a opinião pública está dominada pelo desrespeito à Lei de Deus, e enquanto não se convertem, nada se pode fazer por aqueles que, mesmo estando dentro dos templos e das ações pastorais, mesmo recebendo mensagens e curas, na prática vivem em desobediência.

Hoje há muitos que vivem contrários aos sagrados ensinamentos e pensam que Deus Se vai mudar em seu favor porque assim está a maioria, entendem errado, para seu próprio prejuízo, acerca da misericórdia divina e lamentavelmente, se não mudarem de vida, saberão que isto é a verdade quando se depararem na eternidade condenados.

A desobediência só gera prejuízo à causa católica enquanto a firmeza na sã doutrina é o caminho único dos fiéis, que mesmo sendo ridicularizados e diminuídos a um punhado de homens, devem permanecer aguerridos nverdade  para a verdadeira maior glória de Deus.

Seja louvado Nosso Senhor Jesus Cristo

Sandro F. Peres