O tesouro da Santa Missa

Para muitos católicos o hábito de ir à Missa todos os domingos é algo normal e comum, mas se observarmos atentamente, há um grande perigo, que é o fato de se tornar simplesmente um hábito e de forma mecânica, muita vezes nos impedindo de enxergar as riquezas e excelências da celebração.

Para nos auxiliar nesta experiência, façamos uma breve reflexão à partir da Encíclica Mediator Dei do Papa Pio XII, pois nela encontramos os aspectos da natureza e finalidades do Santo Sacrifício.

1 – A natureza

“O augusto sacrifício do altar não é uma pura e simples comemoração da paixão e morte de Jesus Cristo, mas é um verdadeiro e próprio sacrifício, no qual, imolando-se de forma incruenta, o sumo Sacerdote faz aquilo que fez uma vez sobre a cruz, oferecendo-se todo ao Pai, vítima agradabilíssima” (MD 61). Substancialmente, o sacrifício do Calvário e o sacrifício eucarístico são o mesmo sacrifício. Quando o sacerdote sobe ao altar e, emprestando a Cristo a sua língua e a sua mão, oferece a Santa Missa por todos os homens, está fazendo não só a mesma coisa que Jesus fez naquela ceia derradeira, mas também aquele ato de entrega realizada no madeiro da Cruz. A diferença é que, enquanto no Calvário Jesus se entregou de modo cruento, isto é, derramando o Seu sangue, na última ceia e nos altares de nossas igrejas este sacrifício é oferecido sem derramamento de sangue, ou seja, de forma incruenta.

“Na cruz, com efeito, ele se ofereceu todo a Deus com os seus sofrimentos, e a imolação da vítima foi realizada por meio de morte cruenta livremente sofrida; no altar, ao invés, por causa do estado glorioso de sua natureza humana, ‘a morte não tem mais domínio sobre ele’ (Rm 6, 9) e, por conseguinte, não é possível a efusão do sangue; mas a divina sabedoria encontrou o modo admirável de tornar manifesto o sacrifício de nosso Redentor com sinais exteriores que são símbolos de morte. Já que, por meio da transubstanciação do pão no corpo e do vinho no sangue de Cristo, têm-se realmente presentes o seu corpo e o seu sangue; as espécies eucarísticas, sob as quais está presente, simbolizam a cruenta separação do corpo e do sangue. Assim o memorial da sua morte real sobre o Calvário repete-se sempre no sacrifício do altar, porque, por meio de símbolos distintos, se significa e demonstra que Jesus Cristo se encontra em estado de vítima.” (MD 63).

Durante a celebração da Santa Missa, Jesus não está, “sofrendo de novo” o Calvário, experimentando a agonia da coroa de espinhos ou carregando novamente todo o peso da cruz. A entrega feita no sacrifício eucarístico, no entanto, é a mesma: o oferente é o próprio Jesus – “é Ele mesmo quem preside invisivelmente toda Celebração Eucarística” – e trata-se da mesma vítima: “o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo”. A diferença de modo entre as duas é apenas acidental, não muda a substância do sacrifício (cf. CIC 1348).

Pela transubstanciação, estão presentes debaixo das espécies do pão e do vinho Jesus Cristo em corpo, sangue, alma e divindade. Por força do sacramento, no pão está o Seu corpo e, no vinho, o Seu sangue; mas, pela realidade dos fatos, Jesus todo está presente tanto no pão quanto no vinho. É assim porque, estando Ele ressuscitado e no Céu em corpo glorioso, não pode mais ser separado. O uso do pão e do vinho como matéria deste sacramento, no entanto, significa esta “cruenta separação” do Seu corpo e do Seu sangue, ocorrida na Cruz. Então, tanto o ministro como a vítima dos dois sacrifícios são os mesmos.

 

2 – As Finalidades

Glorificação de Deus: A típica atitude de adoração consiste em pôr-se de joelhos diante de Deus, rebaixando-se diante d’Ele e reconhecendo-se um nada. Na Cruz, Jesus adorou o Pai de modo perfeitíssimo. “Sendo ele de condição divina, não se prevaleceu de sua igualdade com Deus, mas aniquilou-se a si mesmo, assumindo a condição de um escravo e assemelhando-se aos homens. E, sendo exteriormente reconhecido como homem, humilhou-se ainda mais, tornando-se obediente até a morte, e morte de cruz” (Fil 2, 7).

Durante a Santa Missa, por mais que se tenha um sacerdote ou uma assembleia indigna, Jesus está oferecendo a mesma adoração perfeita que ofereceu no madeiro da Cruz. Ainda que todos os seres humanos e todos os anjos juntos cultuassem a Deus, não conseguiriam jamais superar o valor desta oferta do próprio Deus. Por esse motivo, é impossível comparar o augusto Sacrifício do altar com as chamadas “celebrações da Palavra”. Se por um lado estas celebrações comunitárias são importantes em lugares com carência de padres, por outro, é realmente muito triste que a sua frequência indevida acabe por obscurecer as diferenças substanciais entre a Missa e uma simples “reunião fraterna”. Na Missa, o padre age in persona Christi; na celebração da Palavra, ao invés, ainda que a comunidade faça parte do Corpo Místico de Cristo, não há como ocorrer a consagração do pão e do vinho, uma vez que “o povo não pode de nenhum modo gozar dos poderes sacerdotais” (MD 68).

Eucaristia, dar a Deus ação de graças: O homem, que tudo recebe de Deus, tem-lhe uma dívida de ação de graças que não poderia jamais pagar, a menos que o Senhor mesmo não se fizesse homem e sanasse esta dívida por ele. “A Eucaristia é um sacrifício de ação de graças ao Pai, uma bênção pela qual a Igreja exprime seu reconhecimento a Deus por todos os seus benefícios, por tudo o que ele realizou por meio da criação, da redenção e da santificação.

Propiciação: Oferecer expiação pelos nossos pecados. O pecado humano é uma ofensa à Deus, e o Senhor por sua vez, espera de nós além do arrependimento, a reparação de nossas ofensas. Se os sacrifícios oferecidos pelos antigos “simplesmente devolviam a Deus as coisas que Ele mesmo havia criado: touros, ovelhas, pão e vinho”, na Santa Missa, “irrompe um elemento novo e maravilhoso: pela primeira vez e todos os dias, a humanidade pode já oferecer a Deus um dom digno dEle: o dom do seu próprio Filho, um dom de valor infinito, digno de Deus infinito”.

Impetratória: Jesus nos dias de sua vida mortal, dirigiu preces e súplicas, entre clamores e lágrimas, àquele que o podia salvar da morte, e foi atendido pela sua piedade. Nos altares de nossas igrejas, Jesus continua colocando-se entre a humanidade e o Pai e pedindo a Ele as graças necessárias para nossa salvação.

Para receber os benefícios da redenção de Jesus, no entanto, é preciso que o homem se abra a Deus e participe do santo sacrifício eucarístico, não com assistência passiva, negligente e distraída, mas com tal empenho e fervor que os ponha em contato íntimo com o sumo sacerdote, oferecendo com Ele e por Ele, santificando-se com Ele (cf. MD 73).

 

3 – Sujeito e Objeto

O Sujeito da Liturgia é Jesus, que oferece ao Pai (objeto da mesma) o dom precioso de Si mesmo, a ação principal não está sendo realizada nem pelo sacerdote (que é o sujeito secundário), nem pela assembleia, mas por Jesus. Portanto, participemos ativamente da Santa Missa, ouvindo e vendo, no altar, toda a ação litúrgica da Cruz.

 

4 – Benefícios e Excelências

Segundo São Leonardo de Porto Maurício (1676-1751), são inumeráveis as excelências que a Santa Missa produz na alma de um fiel:

  • Na hora da morte, as Santas Missas que tiverdes ouvido devotamente serão vossa maior consolação.
  • Deus vos perdoa todos os pecados veniais que estais determinados a evitar.
  • Ele vos perdoa os vossos pedados desconhecidos (esquecidos) que jamais confessareis.
  • O poder de Satanás sobre vós é diminuído.
  • Cada Missa irá convosco ao Julgamento e implorará por perdão para vós.
  • A cada Missa tendes diminuída a punição temporal devida a vossos pecados, mais ou menos, de acordo com vosso fervor.
  • Assistindo devotamente à Santa Missa, rendeis a maior homenagem possível à Sagrada Humanidade de Nosso Senhor.
  • Através do Santo Sacrifício, Nosso Senhor Jesus Cristo repara por muitas de vossas negligências e omissões.
  • Ouvindo piedosamente a Santa Missa, ofereceis às Almas do Purgatório o maior alívio possível.
  • Uma Santa Missa ouvida durante vossa vida será de maior benefício a vós do que muitas ouvidas por vós após vossa morte.
  • Através da Santa Missa, sois preservados de muitos perigos e infortúnios, que de outra forma cairiam sobre vós.
  • Vós encurtais vosso Purgatório a cada Missa.
  • Durante a Santa Missa, vós ajoelhais entre uma multidão de santos Anjos, que estão presentes ao Adorável Sacrifício com reverente temor.
  • Pela Santa Missa sois abençoados em vossos bens e empreendimentos temporais.
  • Quando ouvis a Santa Missa devotamente, oferecendo-a ao Deus Todo-Poderoso em honra de qualquer Santo ou Anjo em particular, agradecendo a Deus pelos favores dispensados nele, vós conseguis para aquele Santo ou Anjo um novo grau de honra, alegria e felicidade, e dirigis seu amor e proteção especiais dele para vós.
  • Toda vez que assistis a Santa Missa, entre outras intenções, deveis oferecê-la em honra do Santo do dia.

 

ACESSE TAMBÉM: O que é a Santa Missa

 

Fontes:
-Carta Encíclica Mediator Dei, sobre a Sagrada Liturgia, Papa Pio XII.

-Bíblia Sagrada, Edição Ave Maria

-O Tremendo valor da Santa Missa, São Leonardo de Porto Maurício.

-Site Christo Nihil Praeponere, Padre Paulo Ricardo.

 

Sergio Luiz Matias

Consagrado da Comunidade Católica Fanuel