2 Tm 2,23-26
Vez por outra acontecem incêndios na beira das estradas. Normalmente são provocados por uma pequena chama, como de uma bituca de cigarro acesa.
Uma “chama” terrível que costumamos manter acesa em nossa convivência é a impaciência. Com ela DIZEMOS palavras infelizes ou temos GESTOS descontrolados.
A língua a serviço da impaciência provoca grandes estragos (cf. Tg 3,5-6). Ao contrário, tendo em nós a pequena virtude da paciência podemos, como pede a Palavra de Deus, edificar e fazer bem com nossas palavras (cf. Ef 4,29).
A palavra dura normalmente é respondida com violência, ou provocação. E assim os esposos, filhos, colegas de trabalho e irmãos de comunidade acabam ferindo-se mutuamente, dizendo coisas desagradáveis que não traduzem os seus verdadeiros pensamentos e sentimentos… E tudo isso por causa de uma “chama”.
Veja bem, muitos têm a grande virtude da paciência. Suportam doenças graves, dores no corpo durante o trabalho, noites sem dormir cuidando de uma criança, esticam jornada de trabalho para alcançar uma meta etc. Mas não tem a pequena virtude, ou seja, alteram-se com uma simples contrariedade, irritam-se com um contratempo, fazem cena por causa de um mal-entendido.
Fica claro, portanto, que é nas pequenas coisas (como ensinava S. Teresinha) que precisamos usar de paciência e assim crescer em virtude.
Uma coisa é zelar pela disciplina ou boa ordem. Neste campo esposos e pais precisam exercer seu direito de serem firmes. Ex: o marido é muito relaxado com as coisas da casa e ao invés de corrigi-lo a esposa fica guardando pequenos ressentimentos, até o dia em que explode!
Corrigir com caridade é um direito e um dever.
Assim devem fazer os pais com as impertinências das crianças ou extravagancias dos adolescentes; se deixamos passar tudo teremos filhos mal-educados, que envergonharam os pais!Opor-se ao mal é, portanto, uma obrigação. Ao mal da preguiça, da desordem, da impureza, do egoísmo, do vício etc., temos a obrigação de agir com caridade pelo bem da pessoa e da família. E para nos opor ao mal-usamos sim da paixão chamada ira, com a qual nos revoltamos para agir em nome do bem.
O problema da ira é o seu descontrole, quando lhe damos curso sem um motivo razoável, ou que extravase de modo desproporcional ao ato. Exemplo de bom uso da ira é o de Jesus contra os vendilhões do templo.
Paciência não é fraqueza frente ao erro, mas domínio de si. A pessoa violenta é primeiramente impaciente, ou seja, não se controla. A impaciência é uma fraqueza de vontade.
A força manifesta-se no autodomínio, que é fruto do Espírito tanto quanto a paciência (cf. Gl 5,22-23).
Só que autodomínio e paciência “não vem de fábrica”, devem ser conquistados, aprendidos. A paciência adquire-se de duas maneiras: através de convicções e através de exercício.
A lembrança frequente da presença de Deus em nós nos ajuda no que se refere às convicções. Se a impaciência é fruto da falta de reflexão, quem reza passa a refletir mais, pois com frequência lembra-se que vive na presença do Senhor.
Peça serenidade ao Senhor, para entender que quem te faz perder a paciência é alguém necessitado que precisa da sua ajuda e instrução. É o conselho de S. Paulo: “Suportai-vos” (Cl 3,13).
Quanto aos exercícios para se obter paciência, temos dois:
1-Saber calar;
2-Esperar;
Calar significa esperar a hora certa de falar, não interromper o outro, respirar, pensar antes de responder. Quando um não quer os dois não brigam. Falar é preciso, mas tudo tem sua hora. Um agricultor não semeia em dia de tempestade, um pescador não se dá bem em águas agitadas e turvas.
Deixe para amanhã o que seria mal feito hoje, converse outra hora. Evite agir na pressão ou na pressa. Aprenda a esperar para bem fazer as coisas.
As irmãs de Lázaro agiram com impaciência sobre Jesus, mas Ele soube a hora certa de agir. Peçamos a Ele a graça de aprender a esperar a vez de falar e o melhor momento para agir, cedendo às vezes – para evitar agir na ira – a fim de ganhar o outro lá na frente, ganhar no amor, no respeito, na educação, no carinho.
Cesar Machado Lima
Comunidade Fanuel