“Em seguida, começou a ensiná-los, dizendo que o Filho do Homem devia sofrer muito, ser rejeitado pelos anciãos, pelos sumos sacerdotes e doutores da Lei, devia ser morto, e ressuscitar depois de três dias. Ele dizia isso abertamente. Então Pedro tomou Jesus à parte e começou a repreendê-lo. Jesus voltou-se, olhou para os discípulos e repreendeu a Pedro, dizendo: “Vai para longe de mim, Satanás! Tu não pensas como Deus, e sim como os homens.” (Cf. Mc 8,30-33)
A narrativa do Evangelho nos remete a esta expressão dada a Pedro num contexto de admoestação, ao fato dele não compreender a glorificação de Nosso Senhor Jesus Cristo, diante da não aceitação da morte de cruz a qual Nosso Senhor deveria passar para nos redimir do grande mal de sempre, o pecado. Durante a exortação, Jesus revela que o mesmo estava pensando como os homens e não como Deus.
Pensar como os homens?
Claro que a questão aqui não toca em si o sexo masculino, mais o único gênero existente; o gênero humano. Em nossa peregrinação humana neste mundo, até mesmo por uma questão de “sobrevivência” a nossa natureza vive uma dupla busca: o fugir da dor e o buscar o prazer.
Tal busca não é em si má. Pois todos buscam o Bom o Belo e o Verdadeiro é por essa razão que fazemos escolhas em nossa vida. Ninguém opta por algo em plena consciência, que seja feio, ou que se veja como mal em si.
Tudo que o ser humano faz é para chegar à verdade, para viver a autorrealização no belo e no que é bom, elevando a alma a buscar um bem supremo.
No entanto, o grande erro está no meio deste caminho, onde as consciências estão fatalmente desordenadas no sentido de eliminar as coisas eternas da vida. Tudo é passageiro, tudo é momentâneo desde que isso me traga prazer, uma falsa ideia de liberdade (porque uma vida assim torna homens mais escravos do que livres), que não conecta com a eternidade. Nota-se que se abole o Bem Supremo em detrimento de bens passageiros, em relações marcadas pelo “até que”, totalmente líquidas. Se não gosto mais, posso deletar, posso excluir, posso bloquear. Tal postura tem formado gerações que crescem sem o verdadeiro sentido do amor para além dos sentimentos. Mas um amor que dá a vida.
Pensar como homens é negar a verdadeira felicidade que consiste em dar a vida pelo outro, para que o faça feliz. Nisto conheço o caminho autêntico da felicidade, que é fidelidade, que é renúncia que se traduz na simples busca das coisas do alto (Cl 3,1ss).
Jesus tem todo o poder, mas então porque Ele aceitou a vontade do Pai em sofrer tamanha humilhação, numa morte vergonhosa, dolorosa? Essa resposta está nesta premissa: a verdadeira vida está no morrer. Isso causa espanto para quem não pensa como Deus: o supremo Bem, o mais Belo de todos que nos dá todo o bem?
Pensar como Deus
O pensar como Deus, nasce de uma adesão de nossa consciência e coração às verdades da fé. Sim a fé antes de ser uma experiência no nível dos sentidos, precisa ser uma experiência, tocada pela nossa razão. Em plenos dias de hoje somos chamados a deixar de lado as falsas verdades que nos foram impostas, aliás, se são verdades já não é verdade, já que há uma só.
Nessa experiência, tudo o que se tem como posto vai ruindo diante da verdade onde o que é eterno prevalece e responde a tudo o que se anseia e ao que se espera.
Eis o pensamento de Deus, que perpassa a razão, mas que não a abandona: Deus amou o homem tanto que enviou o seu Filho ao mundo (Jo 3,16)…
Estar guiado pelo pensamento de Deus é ter consciência de quem eu sou diante Dele e estar disposto a não me poupar para que minha vida seja uma oferta de amor e que na minha morte, vida aconteça. Que na minha renúncia o outro seja feliz. Eis o principio do pensar como Deus pensa.
Marcos Sousa dos Santos – Membro Consagrado da Comunidade Fanuel, Rosto de Deus.