A Igreja é esta grande casa a que se refere o apóstolo São Paulo, é ela a casa do Senhor; e nesta grande casa há muitos utensílios, instrumentos ou vasos, segundo o texto original grego que usa a palavra SKEUOS (σκεῦος) e tem esses significados. Esses vasos são os servos do Senhor, os membros da família de Deus que são habitados pelo Espírito Santo e por isso podem ser usados por Deus. Com a mesma palavra as Escrituras Sagradas nos contam acerca da orientação que Ananias recebeu para chamar o próprio São Paulo ao Batismo (cf. At 9, 15).
Este ensinamento é ainda mais esclarecido quando lemos: “Porém, temos este tesouro em vasos de barro, para que transpareça claramente que este poder extraordinário provém de Deus e não de nós.” (II Co 4, 7), também aqui a palavra grega traduzida como vaso é a mesma, somente que no plural. Assim, devemos compreender que na casa de Deus, os Seus filhos são todos como vasos escolhidos, são instrumentos de Seu poder e tabernáculos de Sua presença.
A grande família cristã está, portanto, repleta de vasos e a nobreza desses instrumentos está na pureza com que carregam a sã doutrina e a comunhão com Deus, cada batizado é um vaso de unção e Deus quer aperfeiçoá-lo para as obras mais elevadas, Deus quer trabalhar esses vasos e quando encontra neles defeitos, como sábio artesão, como artífice da perfeição, sabe melhorá-lo e se preciso for, moldá-lo novamente, é o que nos conta o profeta Jeremias (cf. Jr 18, 1-6).
De todos os vasos do Senhor, existe um que foi feito em perfeição desde a sua criação, porque este vaso não deveria apenas carregar a fé e o Espírito Santo da filiação, mas deveria substituir os vasos sagrados que guardavam o maná dado por Deus no êxodo (cf. Hb 9, 4), deveria este vaso na verdade, mais ainda guardar a encarnação da Aliança e por isso tornou-se a própria nova arca da Aliança (cf. Ap 11, 19-12,1). Este vaso nobilíssimo, puríssimo e perfeito não se fez a si mesmo, mas foi trabalhado pelas santas mãos de Deus na eternidade porque, na primeira Aliança Deus mandou que homens capazes, com nobres materiais, fizessem os vasos sagrados, mas agora, dada a superioridade da nova e eterna aliança, Deus mesmo cunhou para Si os vasos sagrados para que o Verbo Se fizesse carne e habitasse entre nós. Então, se todo batizado é um vaso de Deus e Ele trabalha para aperfeiçoá-lo, tanto mais Deus fez perfeito o vaso que conteria o próprio Deus em carne. Desta forma a piedade cristã, logo cedo, atribuiu à Maria Santíssima o título de o Vas insígne devotiónis ou seja, Vaso Insigne de Devoção – Devoto quer dizer dedicado a Deus. A criatura que mais se dedicou e viveu em função de Deus foi Nossa Senhora, tendo-o realizado de forma tal que melhor é impossível.
Juntamente com este título, a santíssima Mãe de Deus é também honrada com outras duas invocações sob o signo do vaso:
·Vaso Espiritual — Nada tem mais valor do que a verdadeira fé. Na Paixão e Morte de Nosso Senhor, quando até os Apóstolos duvidaram e fugiram, foi Nossa Senhora quem recolheu e guardou, como num vaso sagrado, o tesouro da fé inabalável.
·Vaso Honorífico — Em nossa época, a honra quase não é considerada: pelo contrário, muitas vezes a falta de caráter e de vergonha é que é louvada, como nas manifestações ditas culturais em que se enaltecem desvios de comportamento como a “malandragem” – e depois se queixam dos resultados óbvios de violência, corrupção e colapso da cidadania… No entanto, a honra é um valor em si mesmo. Nossa Senhora guardou cuidadosamente em sua alma todas as graças recebidas, mantendo a honra apesar da decadência do gênero humano. Se não tivesse existido Nossa Senhora, ficaria faltando na criação quem representasse a perfeição da criatura, fiel até o extremo heroísmo.
Desta maneira, neste mês de Maio, vamos voltar nossos olhos, pensamentos e coração para a Virgem Puríssima que é a Santa Mãe de Deus e compreender nela um vaso sacratíssimo, o mais nobre dos vasos da casa de Deus, que guardou Jesus para nós e nos guardará também para Ele.
Em Cristo;
Sandro Fatobene Peres