Como entender a escravidão a Cristo?

7) Escravidão? (parte 1)

Na época de Jesus existiam escravos. Aliás, esta é uma realidade presente na Bíblia tanto no AT (cf. Dt 15,12-15), quanto no NT (cf. Ef 6,5-9; Cl 4,1). No NT escravo ou servo é a mesma coisa.

Para nós é mais comum o uso da expressão servo, pois escravidão no geral tem conotação negativa em nossa cultura. Mas não temos problemas em falar de servo ou escravo quando mencionamos personagens bíblicos, como por exemplo, a Virgem Maria. Para exaltar sua virtude às vezes dizemos: “Ela mesma se colocou como ESCRAVA (ou serva) do Senhor, conforme Lc 1,38”.

Seja como for, na Igreja usamos mais a expressão servo. Alguns movimentos, como a RCC, chamam as pessoas que exercem ministérios de servos. Também quando nos referimos ao ministério ordenado dos diáconos, habitualmente explicamos: são aqueles que servem.

Mas na época de São Luiz, ainda por influência da Idade Média, com o feudalismo – modelo de organização social e política baseado nas relações servo-contratuais – servo e escravo eram realidades distintas (cf. TVD, 69-72).

Escravo é tido por coisa ou propriedade de seu senhor. Para ser bastante específico, pense no que foi a escravidão dos negros em nosso país… Já o servo da gleba, que é na Idade Média uma evolução do escravo, era reconhecido em sua dignidade e possuía um contrato de serviço com seu patrão (o senhor feudal). Assim, o servo não era considerado coisa. Pelo contrário, tinha direitos, recebia pagamentos e não podia ser morto por seu senhor. O servo cuidava da agropecuária do feudo e em troca recebia direito a uma gleba de terra para morar, além de obter proteção militar de seu senhor.

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São Luiz, no Tratado, fala em escravidão, sim, mas no sentido presente no cristianismo, que é aquele que se aplica à nossa relação com Jesus Cristo, o Senhor (kyrios) (cf. Rm 10,9; 14,7-9; Fp 2,5s). Os primeiros cristãos entendiam-se como escravos de Cristo (cf. At 4,29; Rm 1,1), porque, ao aceitarem Jesus como Salvador e Senhor, passavam de um reino a outro. Leia e ore com Rm 6,15-20.

O pano de fundo desta devoção, portanto, é o senhorio de Cristo aplicado na vida do discípulo e o conceito fundamental é o seguinte: em nossa liberdade devemos optar pela escravidão, ou seja, passar de servos a escravos, por amor. É uma opção livre, de alguém que entende quanto é pequeno e pobre e por isso se oferece inteiramente aos cuidados de um senhor, um dono, que é Cristo.

Finalmente, que isto fique muito claro: toda a centralidade do método de São Luiz está na Pessoa divina de Cristo Jesus, como você pode ler no Tratado n. 61, do qual destaco o seguinte: “Se a devoção à Santíssima Virgem nos afastasse de Jesus Cristo, seria preciso rejeitá-la como uma ilusão do demônio”.

Continuaremos este tema no próximo post.

Por Cesar Machado Lima – Comunidade Fanuel