Você pertence ao Senhor Jesus?

8) Escravidão? (parte 2)

No post anterior contextualizei o conceito de escravidão presente no Tratado, diferenciando esta da servidão – algo próprio da época de São Luiz – e dando o pano de fundo desta escravidão: o senhorio de Cristo.

Hoje limito-me a aprofundar com as próprias palavras de Montfort o significado de pertencer a Jesus Cristo, na qualidade de escravos. Amanhã falaremos da escravidão à Virgem Santíssima:

“Devemos concluir do que Jesus Cristo é para nós, que – como diz São Paulo – não somos nossos, mas inteiramente d’Ele, como Seus membros e escravos, comprados pelo preço infinitamente caro de todo o seu sangue (1 Cor 6,19-20). Antes do Batismo pertencíamos ao diabo como seus escravos. Ao receber este sacramento, tornamo-nos verdadeiros escravos de Jesus Cristo. Doravante já não devemos viver, trabalhar e morrer senão para este Homem-Deus (Rm 7,4),glorificando-o em nosso corpo (Rm 12,1) e fazendo-o reinar em nossa alma. Somos, pois sua conquista, seu povo de aquisição e sua herança. É pela mesma razão que o Espírito Santo nos compara:

– Às árvores plantadas ao longo das águas da graça, no campo da Igreja, e que devem dar frutos a seu tempo (Sl 1, 3).

– Aos ramos duma vinha de que Jesus é a cepa, e que devem dar boas uvas (Jo 15, 5).

– A um rebanho de que Jesus Cristo é o pastor, e que se deve multiplicar e dar leite (Jo 10, 1).

– A uma boa terra de que Deus é o agricultor, e na qual a semente se multiplica, produzindo trinta, sessenta ou cem por um (Mt 13, 3-8).

Jesus Cristo amaldiçoou a figueira estéril e condenou o servo inútil, que não tinha feito render o seu talento (Mt 21,19; Mt 25,24-30). Tudo isto prova que Jesus Cristo quer receber algum fruto das nossas pobres pessoas, a saber: as nossas obras, porque estas só a Ele pertencem: “Criados para as boas obras em Cristo Jesus” (Ef 2, 10).

Mostram estas palavras do Espírito Santo que Jesus Cristo é o único princípio e deve ser o fim último de todas as nossas boas obras. Mostram ainda que o devemos servir, não somente como servos assalariados, mas como escravos de amor. Explico-me.

Senhorio de Cristo

Neste mundo, há duas maneiras de pertencer a outra pessoa e de depender da sua autoridade: a simples servidão e a escravidão, que fazem dum homem, respectivamente, um servo ou um escravo. Pela servidão, comum entre os cristãos, um homem compromete-se a servir outro durante um certo tempo, mediante determinada paga ou certa recompensa. Pela escravidão, um homem depende inteiramente de outro, por toda a vida, e deve servir o seu senhor sem pretender paga nem recompensa alguma, como um dos seus animais, sobre o qual o dono tem direito de vida e de morte” (TDV 68-69).

Por Cesar Machado Lima – Comunidade Fanuel