Em que sentido Maria é nossa Rainha?

9) Escravos de Maria

Certos de que esta devoção está focada no senhorio de Cristo e nos desafia a ser não apenas servos, mas escravos por amor, veremos agora aonde é que entra a questão da escravidão também à Virgem Maria.
Este conceito perpassa todo o Tratado. No n. 54, comentando Gn 3,15, São Luiz fala da inimizade entre Maria (a mulher) e o demônio (a serpente), e a posteridade de ambas, nomeadas de “…servos da Santíssima Virgem” e “…escravos do demônio”. Depois afirma que nos últimos tempos Deus suscitará uma geração de santos (as) que “conhecerão as grandezas desta soberana e se consagrarão inteiramente a seu serviço, como súditos e escravos de amor” (TDV 55).

A seguir, descreve o perfil destes escravos: são “ministros do Senhor ardendo em chamas abrasadoras, que lançarão por toda parte o fogo do divino amor” e “flechas agudas nas mãos de Maria toda-poderosa, pronta a traspassar seus inimigos” (TVD 56), entre outras características, como a sintonia fina com o Espírito Santo (TVD 57) e o apostolado rico em “palavra e força para fazer maravilhas e alcançar vitórias gloriosas…” (TDV 58). Por fim, claramente diz que os escravos de Maria “são verdadeiros discípulos de Jesus Cristo… andando… conforme o santo Evangelho, e não pelas máximas do mundo” (TVD 59).

Tudo isto reforça a centralidade de Cristo nesta preciosa devoção. Mas São Luiz afirma que o melhor caminho para se chegar a uma real escravidão a Ele, é a escravidão à Sua Mãe, pela seguinte razão: por escolha Dele foi ela a companheira indissolúvel de toda a Sua vida, o que se evidenciou não somente em sua morte (cf. Jo 19,25-27), mas também em sua glória e poder no céu e na terra (TVD 74).

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De fato, Maria é apresentada no NT como modelo da Igreja, particularmente em Ap 11,19 (Maria = nova arca da aliança, portadora de Cristo/presença de Deus) e Ap 12,1ss (Mulher revestida do sol [Deus], com a lua [o mal] sob seus pés e a majestosa coroa de Rainha [12 estrelas = apóstolos]). Destaco ainda que o inimigo da salvação, desmascarado por São João como “aquela velha cobra [Gn 3,15!], chamado Diabo ou Satanás, que leva todas as pessoas a pecar” (12,9), não podendo contra Deus, revolta-se e começa a “perseguir a mulher que tinha dado à luz o menino” (12,13). Vai contra ela e sua descendência, seus filhos e súditos (cf. Ap 12,17).

Seja na cruz, seja na glória, Jesus está intimamente unido à Sua Mãe. Ele é Rei por natureza (pois é Deus desde sempre e para sempre). Já a Virgem é Rainha por graça. Ou seja, ela não é Deus (a) e jamais o será, mas foi posta por Deus na condição de Rainha (TVD 74).

Isto pode escandalizar alguém?

Sim, quem não conhece as Escrituras, porque faz parte do plano do Senhor para os discípulos de Cristo participar do Seu reinado, como você pode ver nos seguintes textos: 2 Tm 2,12 – 1 Pd 2,4-9 – Ap 5,10.

Se em Cristo somos considerados reis, o que devemos pensar de Sua Mãe? Em sua humildade profunda uniu-se totalmente à vontade a Deus e, pelos méritos do Seu Filho, uniu-se igualmente a Seu poder (TDV 24). Se nós podemos, ainda nesta terra, pelo poder do Nome de Jesus, fazer obras maiores do que as Dele (cf. Jo 14,12), o que esperar daquela que, com sua súplica humilde fez-Lhe antecipar milagres? (cf. Jo 2,1s)? E se estes milagres agora acompanham os que creem (Mc 16,17), o que dizer daquela que foi declarada bem-aventurada em função de sua fé (cf. Lc 1,45)?

Ficamos por aqui. Nos próximos artigos adentraremos ainda mais neste mistério de Maria, Mãe e Rainha, a quem somos chamados a nos consagrar.

Por Cesar Machado Lima – Comunidade Fanuel